Resumo

Os rios e lagoas da cidade do Rio de Janeiro têm funcionado como receptáculos de esgoto não tratado, e vêm sofrendo ao longo dos anos um intenso processo de degradação. Os Aminoglicosídeos e Beta-lactâmicos constituem-se em importantes grupos de antimicrobianos para os quais as bactérias vêm apresentando resistência com frequência crescente e em escala mundial. Buscamos analisar cepas isoladas em 2008 de amostras de água do Complexo Lagunar de Jacarepaguá, no que diz respeito status sanitário dos corpos d’água, além de realizar o rastreamento de cepas bacterianas Gram-negativas apresentando marcadores de resistência para aminoglicosídeos e beta-lactâmicos. As amostras de água foram submetidas a testes de colimetria que, de acordo com a resolução 247 do CONAMA apresentou resultados acima do aceitável para balneabilidade. Foram detectadas 20 cepas: 14 Escherichia coli, uma Klebsiella ozaneae, uma Klebsiella penumoniae, duas Pseudomonas aeruginosa um Acinetobacter haemoliticus e um Enterobacter cloaceae. Todas as cepas isoladas (100%) apresentaram resistência a pelo menos um dos antimicrobianos de uso terapêutico testados e, 14 cepas (70%) foram indicativas para presença de ESBLs. Todas as cepas (100%) apresentaram sensibilidade a ertapenem e imipenem e duas cepas (10%) apresentaram resistência a amicacina. Das 16 cepas submetidas aos ensaios de reação em cadeia de polimerase (PCR) investigando Enzimas Modificadoras de Aminoglicosídeos (EMAs), 11 (68,75%) apresentaram produtos de amplificação para para o gene acc2. Das 14 cepas submetidas a ensaios de PCR para betalactamases de espectro estendido (ESBLs), 11 (78,57%) apresentaram produtos de amplificação para o gene blaTEM. Nove cepas (45%) apresentaram produtos de amplificação para ambos os genes testados. A presença de multirresistência em microrganismos isolados de ambientes aparentemente inócuos, como é o caso de rios e lagoas, ressalta uma questão importante no que diz respeito à disseminação de genes de resistência, os quais devem ser monitorados. Consideramos que o despejo de material domiciliar, hospitalar e industrial, sem tratamento prévio, em receptáculos aquáticos, pode veicular microrganismos resistentes, que contaminam o ambiente e, posteriormente, podem colonizar e até infectar humanos e animais, que usarão esta água contaminada para consumo, lazer, entre outras atividades.