Resumo

Esporotricose é uma doença subaguda ou crônica que acomete homens e animais, ocorrendo, na maior parcela dos casos, em virtude da inoculação traumática de fungos do gênero Sporothrix. Devido à ampla distribuição no ambiente, verifica-se estreita relação entre a enfermidade e ocupações profissionais relacionadas a manipulação de solo e vegetais. Soma-se a este fato o caráter antropozoonótico desta micose, onde a inoculação do agente ocorre através da arranhadura e/ou mordedura de felinos acometidos ou não pela patologia. O diagnóstico rápido da esporotricose felina e intervenção terapêutica adequada favorecem o prognóstico e diminuem a chance de disseminação da infecção para outros animais e para o homem. Desta forma, a microscopia direta realizada ainda em nível ambulatorial torna-se uma excelente ferramenta. O presente trabalho analisa comparativamente o resultado da avaliação citológica de espécimes clínicos obtidos de felinos com o isolamento de fungo pertencente ao complexo Sporothrix schenckii nos meios usualmente utilizados na rotina diagnóstica. Considerou-se no presente estudo o total de 273 amostras oriundas de felinos, recebidas no intervalo entre janeiro de 2012 e junho de 2014, pelo Laboratório de Leveduras Patogênicas e Ambientais - UFRRJ. O processamento das mesmas foi realizado com semeadura simultânea em Ágar Sabouraud Dextrose e meio seletivo para fungos patogênicos (Mycosel®), incubados a 25oC por até 15 dias. Simultaneamente, avaliação citológica utilizando coloração simples com fucsina foi realizada, objetivando a pesquisa de estruturas leveduriformes. Deste total, 102 avaliações citológicas evidenciaram estruturas sugestivas do fungo, enquanto 133 isolados foram obtidos com sucesso. Considerando o isolamento do agente como padrão ouro para validade do procedimento diagnóstico, obteve-se para microscopia direta dos espécimes, utilizando fucsina, sensibilidade de 66,92%, especificidade de 90,71%, valor preditivo positivo de 87,25%, valor preditivo negativo de 74,27% e acurácia de 79,12%. A ocorrência de possíveis contaminantes da amostra, a subjetividade da avaliação citológica e administração prévia de antifúngicos, são alguns dos fatores que podem interferir em tal ferramenta de auxílio diagnóstico. Apesar da presença em maior número de estruturas fúngicas nas lesões ulceradas em felinos, verifica-se a necessidade de confirmação diagnóstica através do isolamento do agente, sendo desaconselhável excluir a suspeita de esporotricose felina pelo resultado da avaliação citológica.