Resumo

As infecções pulmonares por Bastonetes Gram Negativos Não Fermentadores (BGN-NF) se associam a morbi-mortalidade em pacientes com Fibrose Cística (FC). Curiosamente, Acinetobacter baumannii, que emergiu como um problema de saúde pública mundial, não é usual nesses pacientes. A sua baixa frequência pode estar relacionada, em parte, com a colonização por outras espécies do gênero, de difícil caracterização, e referenciadas genericamente como BGN-NF em laboratórios clínicos. Este trabalho objetivou: a) identificar ao nível de espécie 38 amostras de Acinetobacter spp. isoladas de 29 pacientes atendidos em dois centros de referência para FC no Rio de Janeiro por métodos fenotípicos e por quatro técnicas moleculares (sequenciamento dos genes 16S rRNA e rpoB, ARDRA e PCR do gene bla_OXA-51-like) b) determinar o perfil de suscetibilidade a 11 antimicrobianos pelo método de difusão em ágar c) determinar as Concentrações Inibitórias Mínimas para tobramicina e polimixina pelos métodos de microdiluição e teste-E d) investigar a presença de genes de resistência para β-lactamases através de PCR e) determinar o perfil clonal das amostras por PFGE. Das quatro técnicas moleculares de identificação, o sequenciamento parcial do gene rpoB foi o método mais acurado, identificando 50% amostras como A. baumannii e 50% como A. não baumannii (34% A. pittii e 16% A. nosocomialis). A maioria das amostras, independente da espécie, apresentou alta suscetibilidade para a maior parte dos antimicrobianos, entretanto duas amostras de A. baumannii foram multirresistentes (MR) ambas portadoras do gene bla_OXA-23-like. Nenhuma amostra apresentou resistência a polimixina e apenas as duas amostras A. baumannii MR foram resistentes a tobramicina. Os genes codificadores de CTX-M-15 e SHV-121 foram pela primeira vez detectados simultaneamente em A. baumannii (n=5) e A. pittii (n=5) em pacientes com FC. Houve uma grande diversidade clonal entre as amostras, porém, dois clones de A. pittii, portadores de genes bla_CTX-M-15 e bla_SHV-121, foram compartilhados por pacientes distintos no mesmo período. Estes resultados apontam para um perfil epidemiológico característico deste grupo de pacientes distinto de outros pacientes hospitalizados nos mesmos centros, e alerta para a importância clínica e da necessidade da correta identificação das espécies de Acinetobacter em pacientes com FC.