Resumo

Edwardsiella tarda é um bastonete Gram-negativo, móvel pertencente à família Enterobacteriaceae, encontrada em ambiente aquático relacionado à contaminação e infecção em peixes. Apesar de ser incomum, E. tarda é um patógeno que pode acometer humanos causando gastroenterites e infecção extraintestinal. Casos como enterocolite, abscesso hepático, peritonite, osteomielite, endocardite já foram descritos. Poucos casos de meningite e sepse em neonatos são relatados. O objetivo deste trabalho foi relatar um caso de isolamento de E. tarda em recém nascido em líquido cefalorraquidiano (LCR) e sangue. Dez dias após o nascimento, paciente apresentou febre (38°C), e foi submetido a testes laboratoriais, com leucograma que revelou 5.700/mm3 (8% bastões, 55% neutrófilos, 27% linfócitos, 10% monócitos). Foi realizado punção lombar e hemocultura. Inicialmente nenhum microrganismo foi identificado pela bacterioscopia do LCR segundo Gram, entretanto, após cultura E. tarda foi isolada no sangue e no LCR. O microrganismo foi identificado por meio de sistema automatizado (Vitek 2) e utilizando-se metodologia de difusão em ágar, foi sensível a todos os antimicrobianos testados: ceftazidima, cefepima, cefotaxima, aztreonam, ciprofloxacina, piperacilina-tazobactam, amoxicilina-ácido clavulânico, ampicilina-sulbactam, gentamicina, trimetoprim-sulfametoxazol, cloranfenicol, imipenem e meropenem. As amostras isoladas foram direcionadas ao PFGE e apresentaram o mesmo perfil clonal. Não foram observados hábitos maternos que pudessem ser correlacionados com a aquisição da bactéria. O exame histopatológico da placenta revelou achados compatíveis com corioamnionite, indicando aquisição de infecção intra-útero por E. tarda, embora o microrganismo não tenha sido visualizado na placenta e na cultura de secreção vaginal. A despeito da terapêutica adequada (cefepime, 100mg/kg/dia), o paciente recebeu alta após 21 dias de internação. Quadros de meningite pode resultar em danos no cérebro ou mesmo ser fatal, especialmente em neonatos. O diagnóstico microbiológico rápido e correto identificou o microrganismo associado à infecção e corroborou a escolha do antimicrobiano.