Resumo

Serratia marcescens é uma enterobactéria com resistência intrínseca a diversos antibióticos e alta transmissibilidade. Relatamos um caso de pneumonia em paciente do sexo masculino, 69 anos, atendido no Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul portador de Alzheimer e histórico de acidente vascular encefálico há dez meses. Paciente foi internado com rebaixamento significativo do nível de consciência, após 11 dias apresentou uma parada cardiorrespiratória revertida, e posteriormente foi admitido no Centro de Terapia Intensiva sob ventilação mecânica. Neste setor evoluiu com sintomatologia de pneumonia hospitalar e abdômen agudo obstrutivo. Empiricamente foi tratado com teicoplanina (50mg de 12/12h) e meropenem (500mg de 8/8h), posteriormente foi instituído ciprofloxacina (400mg de 12/12h) com aparente melhora do quadro pneumônico. Serratia marcescens foi isolada em amostras de sangue e de aspirado traqueal. A identificação do micro-organismo e a Concentração Inibitória Mínima (CIM) dos antimicrobianos foram determinadas pelo sistema automatizado Vitek® 2. A pesquisa de KPC foi feita por meio do Teste de Hodge Modificado (THM), segundo recomendações do Clinical and Laboratory Standards Institute (2012) e o gene blaKPC pesquisado pela técnica de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR). Os perfis de susceptibilidade aos antimicrobianos foram similares com resistência in vitro aos antibióticos: aztreonam, cefalotina, cefoxitina, colistina, piperacilina/tazobactam, imipenem e ertapenem (testado apenas na amostra sanguínea). O THM foi positivo e a PCR confirmou a presença do gene blaKPC. A classe dos carbapenêmicos é considerada de escolha no tratamento de infecções por bactérias que associam múltiplos mecanismos de resistência enzimática (hiperprodução de betalactamase [AmpC] e betalactamase de espectro estendido [ESBL]). Na atualidade, a resistência aos carbapenêmicos é comum entre as bactérias não fermentadoras de glicose, porém, em enterobactérias tem sido pouco descrita. A Serratia marcescens é considerada um patógeno emergente, com propriedades invasoras, associado principalmente às infecções nosocomiais relacionadas a procedimentos invasivos como cateterização intravenosa e intubação respiratória. Sua prevalência é estimada entre 0,8% a 4%. Esta é a primeira descrição de Serratia marcescens produtora de carbapenemase no Mato Grosso do Sul. A tendência a resistir a muitos antibióticos utilizados na atualidade, seja pela impermeabilidade da parede celular ou produção de betalactamases, faz da infecção causada por esse patógeno uma das mais difíceis de serem tratadas.