Resumo

As usinas hidrelétricas emitem gases estufa, entre eles o metano, sendo que o balanço final da emissão desse gás é influenciado pelo consumo das bactérias metanotróficas, as quais utilizam o metano com única fonte de carbono e energia. O presente trabalho teve como objetivo estudar as comunidades metanotróficas em amostras de água do reservatório da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, através do enriquecimento, isolamento de linhagens e determinação da atividade metanotrófica. Microcosmos foram montados em triplicata em frascos de 100mL, contendo meio mineral NMS sob atmosfera de metano: ar atmosférico (10:90), e inoculados imediatamente após a amostragem com 10% v/v de amostra de água coletadas a 7 e 20m de profundidade. Em paralelo, fez-se a caracterização de uma linhagem previamente isolada de amostra de água da superfície do reservatório sob as mesmas condições de cultivo. O consumo de metano foi medido através de cromatografia gasosa com detector de ionização de chama e o crescimento celular determinado por contagem de bactérias totais através da técnica de coloração com DAPI. A determinação da atividade metanotrófica foi feita por regressão linear da seção de maior inclinação da curva. A caracterização morfológica do isolado foi realizada através de microscopia de contraste de fase e coloração Gram e a identificação feita através do sequenciamento do rRNA 16S, utilizando os primers 330F e 518R.). As culturas inoculadas com amostras de 7m apresentaram um consumo de 1,31.10 ^-9 mmoles CH₄.h^-1.célula^-1 após uma fase lag de 125h, enquanto as culturas inoculadas com amostras de 20m apresentaram consumo de 6,93.10^-10 mmoles CH₄.h^-1.célula^-1, sem ocorrência de fase lag. Essa diferença no comportamento das culturas está possivelmente relacionada a variações na composição e atividade das comunidades metanotróficas em função da disponibilidade de metano e oxigênio ao longo da coluna no reservatório. A linhagem isolada revelou consumo de 8,00.10^-10 mmoles CH₄.h^-1.célula^-1 após uma fase lag de 70h e é composta por cocobacilos gram-negativos apresentando 97% de similaridade com sequencias de rRNA 16S de Methylocystis sp, um gênero de metanotróficas do tipo II, as quais apresentam alta afinidade ao metano. Os resultados confirmam a presença de comunidades metanotróficas ativas ao longo da coluna de água do reservatório de Tucuruí, indicando que o consumo biológico de metano influencia o balanço de emissão do gás.