Resumo

Escherichia coli isoladas de lesões de celulite aviária produzem uma citotoxina denominada Vat (vacuolating autotransporter toxin). Estudos preliminares comprovaram que a Vat induz, em frangos de corte, resposta inflamatória liberando as citocinas TNF-α e IL-10 de modo sistêmico, e alterações locais nos tecidos subcutâneo, adiposo e conjuntivo, incluindo infiltração de células do sistema imune, como linfócitos e heterofilos, e aumento da liberação de TNF-α. Essas observações indicam o papel relevante da Vat no desenvolvimento da celulite aviária. Com o objetivo de entender o mecanismo de ação da toxina, fibroblastos aviários (CEC-32) foram incubados com a Vat por diferentes períodos de tempo. Após marcação com faloidina-rodamina e DAPI, foi verificado que a toxina induz contração dos filamentos de actina e condensação da cromatina nuclear, num processo tempo-dependente que se inicia em 2 horas de tratamento, se acentua em 4 e 6 horas, e torna-se predominante em 18 e 24 horas, quando as células sofrem retração e perdem aderência umas às outras e ao substrato. Esses resultados indicam importantes alterações que comprometem toda a estrutura e metabolismo celular, levando os fibroblastos à morte. Também foi realizado ensaio de TUNEL, que permitiu verificar que a apoptose também se acentua ao longo do tempo, sendo observada moderadamente após 4 e 6 horas de ensaio, e tornando-se intensa após 18 e 24 horas, quando compromete quase a totalidade das células. Entre as alterações indicativas de apoptose, foram verificados retração da célula, provocada pela contração dos filamentos de actina e que leva à perda de aderência com a matriz extracelular e células vizinhas, condensação da cromatina, e fragmentação internucleossômica do DNA. Alguns autores sugerem que a apoptose está intimamente relacionada com as alterações no citoesqueleto, já que muitas proteínas deste, incluindo a actina, são clivadas durante o processo apoptótico. Também há evidências de que a própria perturbação no citoesqueleto de actina induzida pela Vat possa iniciar eventos que levam a célula a entrar em apoptose, em resposta à inflamação ocasionada pela celulite aviária. Esses dados permitem acompanhar o processo de atuação da Vat em nível celular, que pode contribuir para compreensão de como a toxina induz o dano tecidual, característico da celulite aviária.