Resumo

O atual contexto de limitação dos combustíveis fósseis aliado às políticas de desenvolvimento sustentável tem se caracterizado pela forte busca por combustíveis alternativos. Nesse cenário, o desenvolvimento da tecnologia de produção do etanol de segunda geração tornou-se uma prioridade mundial para a produção dessa fonte energética com custos viáveis. A hidrólise eficiente da celulose em açúcares fermentáveis é uma etapa crítica no processo de conversão de materiais lignocelulósicos em etanol. O uso de leveduras capazes de fermentar celobiose constitui, portanto, uma alternativa interessante, uma vez que a conversão de celobiose a etanol reduz a inibição que as enzimas celulolíticas sofrem pelos seus produtos, celobiose e glicose. O objetivo deste trabalho é isolar e identificar leveduras capazes de fermentar celobiose para o possível uso dessas em processos de obtenção do etanol de segunda geração. 200 amostras de madeira em decomposição foram coletadas de ecossistemas de Mata Atlântica, Cerrado e Floresta Amazônica. O isolamento das leveduras foi feito em meio contendo celobiose ou carboximetilcelulose como fonte de carbono. As leveduras foram submetidas a testes de fermentação de celobiose e identificadas. Foram isoladas 712 leveduras, sendo que de 218 testadas, 74 fermentaram celobiose. Estes isolados foram agrupados em 12 espécies de leveduras descritas pela literatura. Hanseniaspora uvarum e Debaryomyces polymorphus foram as espécies fermentadoras isoladas com a maior frequência até o momento. Três linhagens pertencentes à espécie Scheffersomyces queiroziae foram encontradas e apresentaram maiores valores de produção de etanol a partir de celobiose. Além disso, foram isoladas três espécies novas. Scheffersomyces queiroziae é uma nova espécie descrita por nosso grupo de pesquisa como uma boa fermentadora de celobiose, a qual produz uma β-glicosidase intracelular. Portanto, uma levedura com características promissoras para aplicação no processo de produção de etanol de segunda geração e, ainda, interessante como fonte de novas enzimas e transportadores. Os resultados deste trabalho mostram o potencial biotecnológico de micro-organismos isolados a partir de madeira em decomposição em ecossistemas brasileiros e o isolamento de novas espécies demonstra uma oportunidade única para o estudo taxonômico de leveduras.