Resumo

A Salmonella spp. é um dos microrganismos mais amplamente distribuídos na natureza, sendo um patógeno com relevância em saúde pública devido ao seu perfil zoonótico e de frequente ocorrência em surtos de origem alimentar. Desta forma, o objetivo deste estudo foi avaliar os sorovares de Salmonella circulantes em cepas isoladas da cadeia produtiva de bovinos, suínos e pescado, assim como reconhecer a emergência da multirresistência nesta fonte. No período de janeiro a dezembro de 2011, o Laboratório de Referência Nacional para Enteroinfecções Bacterianas (LRNEB) recebeu um total de 460 cepas (314 de origem bovina, 118 de suínos e 28 de pescado) de instituições públicas e privadas de diferentes regiões do país para caracterização antigênica conclusiva. As cepas foram confirmadas quanto ao seu perfil bioquímico e submetidas à caracterização antigênica através da técnica de soroaglutinação rápida com antissoros específicos somáticos (O) e flagelares (H). O perfil de suscetibilidade antimicrobiana foi avaliado em percentual aleatório oriundo das três fontes de isolamento, totalizando 102 cepas. Foram utilizados 18 fármacos representativos das classes beta-lactâmicos (penicilinas, monobactâmicos e cefaloporinas); fenicóis; tetraciclinas; quinolonas; aminoglicosídeos; antifolatos e nitrofuranos, seguindo os critérios estabelecidos no CLSI 2011. Os resultados permitiram identificar 35 sorovares distintos, sendo os mais prevalentes: S. Enteritidis (27,1%) em bovino; S. Typhimurium em suíno (36,5%), bovino (25,5%) e pescado (32,2%) e S. Minnesota em bovino (9,9%) e pescado (28,6%). O perfil de suscetibilidade antimicrobiana permitiu reconhecer 16 perfis, 16,7% com resistência a uma ou mais drogas. Destacam-se os perfis encontrados especialmente em S. Typhimurium isoladas de todas as fontes avaliadas. Estes apresentaram padrões de multirresistência, incluindo drogas de última geração utilizadas na medicina humana e veterinária. Os índices individuais apontaram 47,1% para aminoglicosídeos, 47,1% tetraciclinas, 41,2% betalactâmicos, 35,3% quinolonas, 29,4% nitrofuranos, 11,8% antifolatos e 11,7% fenicóis. Os percentuais detectados talvez representem um reflexo do uso indiscriminado destas drogas na criação de animais de produção, com finalidade terapêutica e/ou como promotores de crescimento.