Resumo

Dentre os pássaros domésticos e selvagens, os pombos são considerados o principal reservatório de leveduras patogênicas, destacando-se Cryptococcus neoformans, microrganismo cosmopolita sapróbio originado do meio ambiente que acomete principalmente pacientes imunocomprometidos e tem como principal manifestação clínica a meningoencefalite. Tendo em vista a ausência de dados epidemiológicos a respeito de leveduras isoladas de fezes de pombos no Rio Grande do Norte e o risco potencial que estas representam para pacientes hospitalizados e imunocomprometidos, objetivamos avaliar a prevalência de leveduras presentes em fezes de pombos obtidas em um hospital universitário da cidade de Natal-RN. Para tanto, avaliaram-se 7 amostras de fezes coletadas em intervalos de 1 mês nos arredores de um hospital universitário, as quais foram semeadas em ágar níger adicionado de 0,05g/mL de cloranfenicol e incubadas a 30ºC e 37ºC, por 96h. As leveduras isoladas foram identificadas através de semeio em meio cromogênico CHROMagar Candida®, prova do microcultivo em ágar fubá adicionado de tween 80, pesquisa de cápsula utilizando tinta nanquim, prova da urease e por metodologia clássica (assimilação e fermentação de carboidratos). Foram obtidos 20 isolados de leveduras, dentre os quais 5 de Cryptococcus sp. (25%), 3 de Candida krusei (15%), 3 de Rhodotorula sp. (15%), 3 de Trichosporon sp. (15%), 2 de Candida glabrata (10%), 2 de Candida tropicalis (10%), 1 de Geotrichum sp. (5%) e 1 de Exophiala sp. (5%), verificando-se ampla variedade de gêneros e espécies de levedura. Isolados de Cryptococcus foram obtidos em grande parte das amostras analisadas (43%). O perfil epidemiológico encontrado assemelha-se em parte ao obtido em outros estudos em regiões geográficas distintas. Contudo, pelo nosso conhecimento, não há nenhum relato anterior de isolamento de espécies de Exophiala de fezes de pombos. Nossos resultados preliminares indicam que os pombos presentes no hospital em questão constituem uma fonte de leveduras patogênicas diversas, as quais podem se dispersar pelo ar e causar infecções sistêmicas graves, com alta taxa de mortalidade. Assim, devem ser tomadas medidas efetivas para a eliminação destes pombos das proximidades do ambiente hospitalar.