A celulose é o componente mais abundante nos complexos ligninocelulósicos que fazem parte da matéria orgânica do solo (MOS), servindo de alimento para organismos da fauna do solo. Vários trabalhos foram descritos constatando a presença de microrganismos associados ao trato intestinal de organismos da fauna do solo, principalmente com térmitas (cupins). Um outro organismo, Trigoniulus corallinus, conhecido popularmente como piolho-de-cobra, embuá ou gongolo, é um diplópode, alóctone, encontrado em todo território brasileiro e tem capacidade de se alimentar de serrapilheira de várias origens e outros alimentos desfavoráveis nutricionalmente. Este trabalho teve o objetivo de prospectar microrganismos diretamente do trato intestinal do diplópode mantido em duas dietas. A obtenção dos microrganismos se deu através da secção do terço final (hindgut) do trato intestinal de diplópodes mantidos por 45 dias em dieta de serrapilheira de sabiá (Mimosa caesalpineafolia) e grama (Paspalum notatun). Cinco diplópodes de cada um dos tratamentos foram dissecados e o hindgut foi acondicionado em solução de Ringer mais pirofosfato,  agitadas em vórtex e tratadas em ultrasonicamento por 45 s.  Um volume do sobrenadante foi inoculado em meio de cultivo constituído de carboxi-metil-celulose (CMC) a 1% em solução mineral mínima de Bushnell-Haas e agar a 1,5%  e incubado por cinco dias a 28°C. Da massa celular proliferada, as colônias isoladas foram repicadas em meio CMC em triplicata, incubadas por cinco dias e procedeu-se o teste de atividade hidrolítica em solução de corante vermelho congo 0,1% por 30 min, e 2 lavagens com solução de NaCl 1M e CH3COOH 1M. Foi possível realizar o isolamento de 34 microrganismos com diferenças morfológicas, sendo que 21 a partir de diplópodes mantidas em serrapilheira de sabiá e 13 oriundos de diplópodes em dieta com serrapilheira de grama. Dos 22 isolados mantidos em serrapilheira de sabiá, 9 apresentaram halo oriundo da degradação de CMC , sendo que os diâmetros dos halos variam de 1 a 7 mm. Já os microrganismos isolados do trato intestinal de T.corallinus somente 1 apresentou atividade celulolítica. Com base nestes reultados pode-se concluir que a dieta com sabiá estimulou maior número de microrganismos com capacidade celulolítica. O isolamento de microrganismos celulolíticos associados ao trato intestinal de T. corallinus fortalece o estudo da comunidade microbiana nestes diplópodes e, aponta o potencial biotecnológico destes microrganismos em processos que envolvem a degradação de celulose.