MODULAÇÃO DA INTERAÇÃO ENTRE CRYPTOCOCCUS NEOFORMANS E CÉLULAS DO EPITÉLIO PULMONAR POR INIBIDORES PROTEOLÍTICOS UTILIZADOS NA TERAPIA ANTI-HIV
Roberta dos Santos Valle (UFRJ); Erika Araújo Abi-chacra (UFRJ); Andre Luis Souza dos Santos (UFRJ)
Resumo
Cryptococcus neoformans é um fungo oportunista e agente etiológico da
criptococose, uma doença que acomete pacientes HIV positivos. A doença se
caracteriza por uma infecção pulmonar que pode disseminar-se para vários
órgãos. Em função dos altos índices de mortalidade, da resistência aos agentes
antifúngicos e da similaridade da apresentação clínica das micoses, as
infecções fúngicas vêm despertando grande interesse da comunidade científica em
desvendar os mecanismos pelos quais os fungos interagem com o hospedeiro
humano, no intuito de buscar estratégicas terapêuticas mais eficazes e menos tóxicas.
A cápsula polissacarídicaé considerada
o principal fator de virulência expresso por C. neoformans; fator
determinante para seleção das cepas utilizadas no presente estudo: T1444,
caracterizada por produzir uma grande quantidade de capsula e por ter um corpo
celular reduzido; HEC3393, que apresenta um volume capsular menor e um corpo
celular maior em relação à T1444; e cap67, um mutante acapsular com
um corpo celular grande. Leveduras de C.
neoformans são capazes de secretar aspártico peptidases. No presente estudo, testamos o efeito de sete
inibidores de aspártico peptidases, dentre eles a pepstatina A e seis
inibidores proteolíticos utilizados na quimioterapia anti-HIV (indinavir,
nelfinavir, ritonavir, saquinavir, lopinavir e amprenavir), frente à infecção
de células do epitélio pulmonar (linhagem A549) pelas três diferentes cepas de C. neofomans. Para tal, as leveduras
foram pré-tratadas por 1 hora com os inibidores proteolíticos na concentração
de 10 micromolar à temperatura ambiente. O tratamento com os inibidores não
alterou a viabilidade das leveduras. Em seguida, os fungos foram lavados em
salina e colocados para interagir com as células A549 por 4 horas a 37ºC.
Nossos resultados mostraram que a cepa HEC3393 aderiu com maior eficiência, seguida
da cepa T1444 e da
cepa acapsular. Todos os inibidores de aspártico peptidases utilizados foram
capazes de diminuir de forma significativa a interação entre C. neoformans-células A549. Os
inibidores de aspártico peptidases foram ainda capazes de inibir o crescimento
celular e a degradação de diferentes substratos protéicos. Este estudo justifica-se pela observação de que o
tratamento de indivíduos HIV positivos com inibidores de aspártico peptidase do
HIV reduz drasticamente as doenças fúngicas oportunistas, sendo este grupo de
enzimas (as aspártico peptidases) um excelente alvo para o desenho de novos
quimioterápicos contra estes fungos patogênicos.