EFEITO DA INTERAÇÃO ENTRE CIANOBACTÉRIAS NA PRODUÇÃO DE MICROCISTINAS

Paulo Vagner dos Santos (EESC - USP); Maria do Carmo Calijuri (EESC - USP)

Cianobactérias desempenham importante papel ecológico em diversos ecossistemas terrestres e aquáticos. Contudo, elas se tornam problema de saúde pública quando biossintetizam compostos secundários tóxicos, denominados cianotoxinas, as quais podem atuar sobre uma variedade de organismos e interferir de diversas formas na saúde humana. O crescimento urbano aliado à ocupação desordenada das bacias hidrográficas, têm levado à eutrofização de diversos mananciais usados como fonte de água no abastecimento público. Nestes sistemas aquáticos, cianobactérias podem tornar-se dominantes em relação aos demais grupos fitoplanctônicos apresentando-se sob a forma de florescimentos tóxicos, cuja toxicidade varia de acordo com a espécie e cepas de cianobactérias que os compõem. Embora duas espécies de cianobactérias Cylindrospermopsis raciborskii e Microcystis aeruginosa terem potencial tóxico, serem competitivas e estarem presentes em diversos reservatórios, o efeito da interação entre elas, na produção de microcistinas, é desconhecido. Visando esclarecer esta questão, nesta pesquisa foi estudada a interação entre cepas das cianobactérias C. raciborskii e M. aeruginosa e o impacto desta associação na velocidade de crescimento das culturas e na produção de microcistina pela cepa tóxica de M. aeruginosa. Em salas climatizadas de cultivo (22º C, fotoperíodo 12h, 60 μmol photon.m^-2s^-1) experimentos de interação foram realizados em culturas batch compostas por três tratamentos: (1) monocultura de M. aeruginosa, (2) monocultura de C. raciborskii, (3) cultura mista de M. aeruginosa e C. raciborskii. Foram realizadas análises da densidade e biovolume dos organismos, da velocidade específica de crescimento (µ) e da concentração de microcistina, clorofila-a e nutrientes. A interação reduziu 22% a µ de C. raciborskii e M. aeruginosa apresentou vantagem competitiva. Além disso, M. aeruginosa elevou em 50% a síntese de microcistina intracelular e em 53% a de microcistina extracelular. As modificações na velocidade de crescimento específica associadas ao incremento de microcistina poderiam se relacionar a três principais mecanismos: competição por interferência, produção de alelopáticos e processos de sinalização química. Desta forma, a interação entre M. aeruginosa e C. raciborskii poderia elevar a concentração de microcistina em sistemas aquáticos, potencializando a toxicidade de florescimentos de cianobactérias em mananciais.