A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NOS EXAMES DE UROCULTURA DO HOSPITAL GERAL DE JUIZ DE FORA, MINAS GERAIS

Déborah Miranda Pontes Costa (HGeJF); Brigida Lino Dutra Paço (HGeJF); Leonardo de Albuquerque Barbosa (UFJF)

A infecção do trato urinário caracteriza-se pelo acometimento dos rins e vias urinárias por invasão e/ou multiplicação bacteriana, sendo uma patologia extremamente frequente, principalmente nas mulheres. Em janeiro deste ano, o caso trágico da morte de uma jovem modelo, em consequencia de complicações decorrentes de infecção urinária foi divulgado pela mídia nacional, fomentando interesse da população. Tal fato - considerado clinicamente raro - sofreu certa exacerbação pela imprensa leiga, provocando preocupação. O presente trabalho teve como principal objetivo demonstrar a influência da mídia, ao veicular informações científicas referentes ao fato supracitado, no número de exames de urocultura solicitados no período subsequente ao falecimento da jovem e sua repercussão, realizados no Hospital Geral de Juiz de Fora (HGeJF), estado de Minas Gerais. Foi realizado um estudo retrospectivo utilizando-se banco de dados do Laboratório de Análises Clínicas do HGeJF. Foram coletadas informações de pacientes ambulatoriais e internados, referentes ao primeiro trimestre de 2009, periodo subsequente às repercussões do caso (Grupo Teste). Esses pacientes foram comparados com um grupo Controle representado pelos atendimentos do ano de 2008 e do segundo trimestre de 2009. As variáveis de interesse coletadas foram: número de pacientes, sexo, positividade na cultura das amostras e patógenos mais frequentes. Comparado ao grupo Controle, o grupo Teste apresentou mudança estatisticamente significativa representada pelo aumento do número de pedidos de urocultura enviados ao Laboratório de Análises Clínicas do HGeJF; contudo, não foram observadas alterações quanto ao sexo dos pacientes atentidos (predomínio de mulheres) e patógeno mais frequente identificado (maior ocorrência de Escherichia coli). Portanto, isso indica que, apesar de não se constituir em patologia de alto risco, esse caso de infecção urinária, ao sofrer extrapolação pela mídia, pode ter provocado medo na população geral, levando à grande procura dos serviços prestados pelo HGeJF e provavelmente em demais localidades. Pode-se concluir que a relação entre mídia e saúde, muitas vezes, gera amplificação social do risco; por outro lado, se melhor explorada, contribui para que haja percepção e conscientização maior do problema em questão por parte da sociedade.