Resumo

INTRODUÇÃO: A infecção crônica pelo Helicobacter pylori, em conjunto com as caracteristicas genéticas do hospedeiro e com o meio ambiente, é considerada importante fator para o desenvolvimento do adenocarcinoma gástrico, especialmente do tipo intestinal, considerado um processo de múltiplos passos, tendo início com a gastrite crônica ativa, progredindo para gastrite atrófica, metaplasia intestinal e displasia. A carcinogênese é um processo complexo, sendo que lesões precoces podem permanecer nesse estágio por anos, sem evolução, podem passar por um processo de cicatrização, ou evoluir para o estágio avançado da neoplasia, sem que esse mecanismo patogênico seja esclarecido. Nesse contexto, as cepas do H. pylori e suas diferentes características genéticas, representadas por fatores de virulência diversos, podem ser um importante fator para o desenvolvimento de um estágio ou outro da doença. Os objetivos deste trabalho foram identificar possíveis diferenças entre as cepas do H. pylori presentes em pacientes com adenocarcinoma gástrico precoce e avançado, determinando, ainda, os genótipos prevalentes na doença como um todo. MATERIAIS E MÉTODOS: Foram estudadas amostras de tecido gástrico de 89 pacientes com adenocarcinoma gástrico do tipo intestinal (31 no estágio precoce e 58 no avançado). Foram realizadas a extração do DNA e a reação em cadeia da polimerase (PCR) para os genes ureaseC, vacA regiões s e m, cagA, cagT e dupA (jhp0917 e jhp0918) da bactéria. RESULTADOS: Foi determinado um padrão genotípico importante e predominante em ambos os estágios da doença, representado por cepas vacAs1m1cagA+cagT+dupA-; porém, para o gene cagA considerado de forma individual, foi encontrado uma importante diferença estatística, o que pode ser determinante para a virulência bacteriana e, portanto, para a identificação de pacientes com maior probabilidade de desenvolver o estágio avançado da neoplasia. CONCLUSÕES: A identificação de fatores de virulência bacterianos pode representar um grande passo no estudo da carcinogênese gástrica; o gene cagA demonstra estar presente em cepas mais virulentas, sugerindo-se que a determinação de cepas positivas para esse gene possam estar relacionadas a uma maior agressão ao hospedeiro, podendo levar, consequentemente, ao desenvolvimento e progressão de doenças gástricas mais graves, como o câncer gástrico.