Resumo

O Brasil vem se destacando como o maior produtor mundial de laranja e maracujá, e a maior parte desta produção destina-se à industrialização, gerando grandes volumes de resíduos, os quais representam em torno de 50% do peso dos frutos. A pectina constitui a maior parte desse material, um heteropolímero com alto peso molecular, contendo majoritariamente (em torno de 65%) unidades de ácido galacturônico, além de outros açúcares neutros. Pode ser degradada por métodos de hidrólise ácida ou enzimática, levando a formação de compostos redutores (CR), mas poucos trabalhos têm sido feitos visando à sacarificação da pectina. O ácido D-galacturônico, uma importante matéria-prima na indústria de alimentos, farmacêutica e de cosméticos, apresenta grande potencial para ser utilizado como substrato em processos de conversão biológica, como a produção de polihidroxialcanoatos (PHA’s). Objetivando o aproveitamento desses resíduos como uma alternativa de baixo custo para a produção de biopolímeros, foi estudado o uso de hidrolisados pécticos para crescimento celular e produção de polihidroxialcanoatos por Cupriavidus necator. Foi realizado um estudo das condições de hidrólise que favorecessem a obtenção de CR, por meio da aplicação de planejamento fatorial e metodologia de superfície de resposta. As variáveis investigadas foram a concentração de enzima (endo-poligalacturonase, Sigma®) e a agitação, mantendo-se a concentração de substrato (pectina cítrica, Vetec®) em 1,0% (p/v). Os resultados obtidos foram comparados com a performance enzimática realizada com uma maior concentração de substrato (10% p/v) empregando-se diferentes concentrações de enzima. Ambos os resultados indicaram que a concentração enzimática de 10 UI/g de pectina favoreceu a obtenção de CR, permitindo atingir em média 70 g/L de CR a partir de 100 g/L de pectina. Os meios de cultura formulados a partir desse hidrolisado foram satisfatórios para o crescimento celular de C. necator, sendo obtida uma concentração celular acima de 10 g/L e o acúmulo intracelular de PHA’s, que foi verificado qualitativamente pela metodologia de coloração com Sudam Black. Após a extração com clorofórmio, o material foi caracterizado por ressonância magnética nuclear (RMN), comparativamente com um padrão, e os resultados indicaram que o biopolímero obtido é o polihidroxibutirato (PHB).