Resumo

A criação de calopsitas e agapornis como pets nos grandes centros urbanos tem aumentado, estimulada pela facilidade de manutenção destas aves em pequenos espaços, além de características como docilidade e variedades de cores. Também é crescente a preocupação sanitária, uma vez que o processo de humanização destas aves pode agravar os riscos de transmissão de zoonoses. Vários trabalhos tem alertado para o risco de infecção por Chlamydophila psittaci, mas poucos estudos apontam o risco de infecção por salmonellas paratifóides e por cepas de E. coli. O objetivo deste trabalho foi pesquisar a presença de E. coli patogênica e Salmonella spp em fezes de calopsitas e agapornis com doença entérica. Foram analisadas 36 amostras de fezes (24 de calopsitas e 12 de agapornis) procedentes de aves com histórico de diarréia, coletadas no Ambulatório da FMVZ-USP. O isolamento de E.coli foi realizado após o enriquecimento das fezes em caldo BHI e o plaqueamento em ágar MacConkey, com incubação a 37ºC por 24h. O isolamento de Salmonella spp foi realizado após o enriquecimento das fezes em água peptonada 0,1%, enriquecimento seletivo em caldo tetrationato de sódio e cultivo em ágar XLT4, com incubação a 37ºC por 24-48h. As colônias selecionadas foram identificadas por testes bioquímicos convencionais. Pares de primers foram utilizados na pesquisa dos genes invA de Salmonella spp e de 5 patotipos de E.coli diarreiogênicas: EPEC, ETEC, EHEC, EIEC e EAEC em sistema multiplex. Os resultados confirmaram a presença de Salmonella spp em uma calopsita adulta (1/24). Houve crescimento de E.coli em 6 amostras (6/36), sendo 4 procedentes de agapornis e 2 de calopsitas. A pesquisa dos patotipos de E. coli pela técnica de PCR resultou na amplificação do gene eae em uma amostra (1/12) isolada de filhote de agapornis. Não houve amplificação do gene bfp e a amostra foi caracterizada como EPEC atípica. Os dados deste trabalho revelam a presença de enterobactérias patogênicas nas fezes destes psitacídeos (19,4%). A etiologia das doenças entéricas em psitacídeos jovens é multifatorial, com importante participação das Enterobacterias, uma vez que a sua microbiota é composta por cocos Gram +. A colonização intestinal por bactérias Gram negativas aumenta a mortalidade dos filhotes, além de representar um risco zoonótico considerável para os proprietários destas aves em ambiente doméstico.