Resumo

Variações verticais de temperatura, salinidade e densidade na coluna d’água do Atlântico Sul caracterizam a formação de uma termoclina e uma camada máxima de clorofila (CMC). Estes fatores podem influenciar a abundância e distribuição da comunidade microbiana, que têm vital importância ecológica nos processos biogeoquímicos marinhos. No presente trabalho foi investigada a abundância de arqueias e bactérias planctônicas, ao longo dos gradientes físico-químicos acima citados. As amostras de água foram coletadas na isobata 2000m (26° 11. 068S e 045° 04.731W), de acordo com as regiões ecológicas da coluna d’água determinadas pelo sensor CTD (conductivity, temperature, depth). A técnica de PCR quantitativo foi utilizada para enumerar cópias dos genes 16S rRNA com os iniciadores 340F e 1000R (arqueias) e 27F e 1401R (bactérias). A média em porcentagem do número de cópias dos genes 16S rRNA de bactérias na coluna d’água foi de 74% e de arqueias foi de 26%. As bactérias foram numericamente dominantes na maioria das profundidades de coleta. Porém, na profundidade de 1000m, as arqueias apresentaram predominância (82%) e em relação às bactérias (18%). A distribuição vertical da comunidade de arqueias é inversamente proporcional ao perfil de temperatura e de salinidade. Conforme o aumento da profundidade e diminuição da temperatura e da salinidade, o número de cópias dos genes 16S rRNA de arqueias aumenta. A distribuição vertical da comunidade bacteriana em relação à salinidade e à temperatura foi semelhante à de arqueias. No entanto, observou-se que na superfície o número de cópias de genes 16S rRNA aumentou progressivamente até a camada máxima de clorofila, registrando-se nessa profundidade a maior abundância. Abaixo dos 200m o número de cópias de genes 16S rRNA diminuiu, mas a partir dos 1000m de profundidade foi observado um aumento progressivo do número de cópias do mesmo. A comunidade bacteriana possui grande importância na produção primária em regiões oceânicas oligotróficas, constituindo parte vital da teia alimentar marinha e de seus processos biogeoquímicos. Desta forma, sugere-se que a distribuição vertical de bactérias em oceano aberto está associada à produção primária. Alternativamente, nas regiões profundas, a maior disponibilidade de nutrientes e de oxigênio dissolvido pode vir a explicar o elevado número de cópias de genes 16S rRNA de bactérias e arqueias.