Resumo

As Escherichia coli aderentes e invasoras (Adherent and invasive Escherichia coli - AIEC) são consideradas suspeitas de envolvimento com doença de Crohn (DC), tendo por base alguns estudos experimentais e dados epidemiológicos. Entre as suas propriedades de virulência, inclui-se a capacidade de estimular a expressão de receptores do tipo CEACAM nas células da mucosa do íleo, através das quais penetram no organismo, vindo a invadir e persistir em macrófagos regionais formando granulomas, que são uma marca histopatológica característica da DC. Este patótipo de E. coli foi definido com o isolamento e caracterização da cepa LF82 do íleo de um portador de DC na França e identificado através de pesquisas em outros países. Este trabalho teve como objetivo avaliar algumas propriedades de virulência de uma cepa isolada de fezes de uma paciente com DC, em comparação com o perfil da AIEC LF 82. A cepa objeto de estudo foi identificada através da pesquisa de cepas invasoras de célula Hep-2 numa coleção de E. coli isoladas de portadores de DC, onde apresentou invasibilidade superior à de EIEC. PCR para genes de virulência de E. coli diarreiogênica (ipaH, elt, stx, aggR e eae) revelou a presença de stx e o teste de adesão em células Hep-2 indicou um fenótipo agregativo com desprendimento celular da monocamada. Cinética de invasão a células Hep-2 mostrou que em 5h de multiplicação o número intracelular de UFC era 12 vezes superior a contagem em 3h. Testes de invasão feitos (em triplicata) em células Caco-2 mostraram que a cepa de estudo apresentou uma invasibilidade equivalente a 88% da apresentada para AIEC LF-82. Embora a invasibilidade em macrófago da linhagem774 fosse superior a da cepa LF-82, a cepa de estudo foi incapaz de replicar no mesmo. A cepa em questão pertence ao grupo B2 (EcoR) e foi isolada de uma paciente com alto CDAI (Crohn’s disease associated index) e com algumas características em comum com o paciente da qual a LF 82 foi isolada, tais como o fato de ter sofrido ileotomia. Os dados apresentados parecem sugerir que a cepa analisada deve ser uma nova variante de AEIC, no que diz respeito a suas propriedades de virulência.