Resumo

Shigella spp. é responsável por elevados índices de morbi-mortalidade principalmente na infância. Contudo sua casuística, particularmente em nosso meio não é conhecida, tendo como principais fatores variabilidade de sua manifestação clinica, notificação compulsória inexistente e como agravante, a disponibilidade de antimicrobianos que até recentemente não sofria qualquer critério limitante de sua comercialização. Diante de tais circunstâncias, 182 cepas de Shigella oriundas de diferentes regiões recebidas pelo LRNEB no período de janeiro/2010 a dezembro/2012, para complementação diagnóstica, foram avaliadas quanto, à caracterização antigênica e perfil de suscetibilidade a 14 antimicrobianos representativos das classes dos beta-lactâmicos, fenicóis, tetraciclinas, aminoglicosídeos, fosfomicina, quinolonas, antifolatos e nitrofuranos. Em amostragem representativa, foi realizada a pesquisa do gene ipaH (53 cepas) através da PCR e relação clonal através da PFGE. Foram identificadas duas espécies, S. flexneri (98 cepas) e S. sonnei (84), tendo sido reconhecidos nove diferentes sorotipos em S. flexneri, com a prevalencia de 2a em 66,3% das cepas. Elevados percentuais de resistência foram obtidos para AMP (69,5%), SXT (65,5%), TCY (63,3%), STR (62,7%) e CHL (35,6%) e identificados 19 perfis de multirresistência em 72,4% das cepas. O gene ipaH foi detectado na totalidade das cepas. O PFGE realizado em 21 cepas de S. sonnei revelou a presença de 20 pulsotipos dos quais 12 com 83% de similaridade. Nas 30 cepas de S. flexneri foram identificados 28 pulsotipos, sendo observado que 12 cepas do sorotipo 2a isoladas em diferentes estados apresentaram 88% de similaridade, sugerindo mesma origem clonal. Os resultados apontam preocupação em face às deficiências de saneamento e infraestrutura de algumas regiões, refletidos pela prevalência de S. flexneri 2a, o qual vem apresentando casuistica ascendente ao longo dos últimos anos. O percentual elevado de cepas relacionadas geneticamente aponta a circulação de um mesmo clone em diferentes regiões do país. Embora a maioria das cepas tenha apresentado sensibilidade aos antimicrobianos de ultima geração, estes resultados não devem ser subestimados quando consideramos os aspectos de relevância que envolvem a shigelose, indicando a necessidade um monitoramento contínuo de modo a ofertar subsídios para ações de prevenção e controle.