Resumo

Salmonella é reconhecida como um dos patógenos de relevância em enteroinfecções, cuja veiculação é geralmente associada a alimentos, sendo os de origem animal os mais incriminados na transmissão para o homem. Neste contexto, objetivou-se determinar entre os sorovares circulantes de Salmonella em carcaças de frango comercializadas no Brasil, no período de 2009 a 2010, a ocorrência e diversidade de genes que codificam resistência a drogas de última geração empregadas na terapia humana e veterinária. A caracterização de genes de resistência por PCR foi efetuada em cepas que apresentaram o perfil intermediário ou resistente para quinolonas/fluoroquinolonas (gyrB, qnrA,B,S e Integron de Classe 1), cefalosporinas de 3ª e 4ª geração (blaCMY, blaCTX-M) e aminoglicosídeos (aac(6’)–Ib, aac(3”)–IIa e Integron de Classe 1). Os resultados apontaram que 50% (16/32) das cepas resistentes e 2.2% (3/134) com sensibilidade reduzida apresentaram o gene blaCMY. Para este grupo de cepas, o gene blaCTX-M foi obtido em 21.8% (7/32) e 15,4% (4/26) respectivamente. Ambos evidenciados em 13 sorovares distintos, com maior prevalência em Infantis e Heidelberg. Entre as cepas resistentes a quinolonas/fluoroquinolonas, o gene gyrB foi observado em 41.7% (28/67) em 18 sorovares com destaque para Salmonella ser. Kentucky. Os genes qnrB e qnrS com percentuais de 13,4% (9/67) e 2,9% (2/67) respectivamente, foram detectados em Salmonella ser. Typhimurium, Corvallis, Hadar e Derby. A presença do aac(3”)-IIafoi evidenciada em uma cepa de Salmonella ser. Typhimurium (2%) entre as resistentes aos aminoglicosídeos (1/46). Integrons de classe 1 com produtos de 700 a >1000 kb amplificados a partir da região variável, foram caracterizados em 20,7 % (19/92) cepas que apresentaram perfil de multirresistência (variando até cinco classes de drogas antimicrobianas) e 16,7% (1/6) com sensibilidade reduzida à uma das classes de drogas avaliadas neste estudo, destacando-se entre os sorovares Enteritidis, Mbandaka e Minnesota. A variabilidade genotípica observada no presente estudo reafirma que mecanismos múltiplos de resistência podem coexistir. Esta permite apoiar a hipótese de que a versatilidade de plasmídeos, troca de integrons e genes de resistência, por transferência vertical e horizontal entre cepas ocorrentes na cadeia alimentar, contribui para propagação da resistência aos antimicrobianos, determinando impacto para a Saúde Animal e Saúde Pública.