Resumo

O município de Canoas possui a terceira taxa de incidência de tuberculose (TB) no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil. O diagnóstico de rotina ainda é insatisfatório porque o mais utiliizado ainda são os métodos microbiológicos (baciloscopia e a cultura). Na maioria dos locais como em Canoas, 90% dos pacientes só realizam a baciloscopia (BK) cuja sensibilidade é baixa. A cultura, considerada como padrão ouro, somente é realizada quando o paciente preenche os critérios definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como tuberculose anterior, HIV, suspeita de resistência. Mesmo assim, a cultura só é realizada em aproximadamente 20% desses. Praticamente, todos os pacientes iniciam o tratamento sem realizar um teste de susceptibilidade de Mycobacterium tuberculosis aos principais fármacos, uma vez que este é feito a partir da cultura. O objetivo deste estudo foi verificar o impacto da utilização da cultura no diagnóstico da TB para todos os pacientes na rotina do sistema de saúde em Canoas. Para isso todas as amostras de escarro dos pacientes atendidos do Departamento de Tisiologia foram cultivadas em Ogawa Kudoh após a realização de BK. De 250 pacientes com suspeita da TB, a cultura confirmou 46 casos. Destes, apenas 14 possuíam BK positivo. Comparando o BK com a cultura, a sensibilidade foi de 30% e a especificidade de 100%. A realização da cultura para pacientes que tinham critérios detectou 22 casos, ou seja o diagnóstico de TB aumentou 57% (oito casos a mais além dos BK positivos). Com a introdução da cultura para todos os pacientes, o diagnóstico de TB aumentou em 109% (24 casos somados aos anteriores). O resultado do teste de susceptibilidade dos isolados foi de 23% de resistentes, sendo 13% para isoniazida e 6,5% para estreptomicina. Portanto, ficou evidente que neste caso, a cultura realizada para todos os pacientes aumentou em mais de três vezes o número de casos de TB diagnosticados. Estes uma vez tratados poderiam interromper a transmissão.