Resumo

Há um interesse crescente na criação de emas (Rhea americana) em cativeiro, no Brasil, entretanto, não existem dados a respeito da microbiota por leveduras do trato gastrointestinal dessas aves. Dessa forma, o objetivo deste trabalho foi isolar espécies de Candida do trato digestório de emas e avaliar a sensibilidade in vitro a antifúngicos e a produção de fosfolipases pelos isolados. Para tanto, foram avaliadas 58 emas de criações das cidades de Fortaleza e de Mossoró, no nordeste brasileiro. As amostras foram coletadas a partir da orofaringe e cloaca dos animais utilizando swabs estéreis. As amostras de fezes foram coletadas do recinto das aves, com o auxílio de lâminas de bisturi estéreis. Para o isolamento primário, o material foi semeado em ágar Sabouraud dextrose a 2%, suplementado com cloranfenicol (0.5 g l–1). Os isolados foram identificados com base nas características morfológicas e bioquímicas. Após a identificação, todas as amostras foram submetidas a testes de sensibilidade a antifúngicos in vitro ante a anfotericina B, itraconazol e fluconazol. A produção de fosfolipases foi investigada cultivando as cepas em ágar gema de ovo. Espécies de Candida foram isoladas de pelo menos um sítio anatômico em 36/58 aves (14/17 jovens e 22/41 adultos) e em 6/10 amostras fecais. Em sua maioria, apenas uma única espécie foi isolada em cada sítio atômico (36/56 sítios positivos); somente quatro casos apresentaram até três espécies diferentes por sítio (4/56). Foram obtidos 77 isolados, dentre eles Candida parapsilosis sensu lato (19), Candida albicans (18), Candida tropicalis (13), Candida guilliermondii (12), Candida krusei (10) e Candida famata (5). C. albicans se mostrou a mais prevalente na orofaringe de emas jovens, quando comparadas aos adultos (P<0,001). Todos os isolados testados foram sensíveis a anfotericina B, mas 16 isolados foram resistentes, simultaneamente, aos dois derivados azólicos testados (11/18 C. albicans, 1/10 C. krusei, 2/19 C. parapsilosis sensu lato, e 2/13 C. tropicalis). C. albicans apresentou uma taxa particularmente elevada de resistência ao fluconazol (15/18) e ao itraconazol (13/18). Finalmente, 23/77 das cepas secretaram fosfolipases. Em resumo, emas saudáveis carream espécies de Candida potencialmente patogênicas em seu trato gastrointestinal, incluindo cepas resistentes aos azólicos e que secretam fosfolipases, podendo ser disseminadas no ambiente.