Resumo

Diante da epidemiologia da tuberculose (TB), de surtos por cepas multirresistentes (TBMR) e o aumento da incidência de infecções causadas por micobactérias não tuberculose (MNT), o diagnóstico precoce é desafio do Programa Nacional de Controle da TB (PNCTB). No final dos anos 90, o método MGIT960 passou a ser utilizado para isolamento de micobactérias e teste de sensibilidade às drogas (TS). Estudos comprovam ser um método de fácil execução, com sensibilidade elevada na detecção da micobactéria diretamente no espécime clínico. Este estudo teve o objetivo de avaliar a implantação cultura líquida MGIT nos laboratórios de TB da rede pública. Trata-se de um estudo retrospectivo de análise de dados secundários, de resultados positivos da cultura líquida, processadas em 10 laboratórios regionais do Estado de São Paulo, no período de janeiro a março de 2010. As variáveis de interesse foram: tempo de positividade da cultura, de liberação do laudo, e resultado dos exames laboratoriais (baciloscopia, formação de corda, identificação da espécie, TS, taxas de contaminação e de culturas mistas). As análises foram realizadas utilizando os softwares estatísticos Epi-Info 2002 (versão 3.5.1) e BioStat 2009. Foram obtidas 1.049 culturas positivas, destas 734 (70,0%) entre 1 a 15 dias. Em 43,5% a liberação dos resultados ocorreram em até 6 dias após a detecção. O acréscimo da cultura líquida em relação à baciloscopia foi de 34,3%. A média do tempo de crescimento de cepas do complexo M. tuberculosis (CMT) relacionado com a baciloscopia negativa foi de 16 dias e das baciloscopias positivas variou de 7 (+++), 10 (++) e 12 (+ e 1 a 9) dias, respectivamente. A identificação das espécies foi possível em 979 (93,3%) das cepas. A concordância da presença ou ausência de formação de corda com a identificação dos CMT e MNT foi de 91,8%. O tempo médio de positividade das cepas do CMT foi de 14,8 (dp 11,8) e das MNTs foi de 14,5 (dp 11,6) (p =0,6018). O percentual de culturas mistas foi de 0,1% (1/979). Dentre as cepas do CMT foi possível realizar o TS em 63,4% (537/847), sendo 88,3% (474/537) sensível e 11,7% (63/537) resistente ao menos uma droga, dentre estas 39,7 (35/63) foram TBMR. Este estudo demonstrou que a cultura líquida proporcionou menor prazo de isolamento e maior agilidade na realização dos exames de identificação e TS. A metodologia automatizada, em cultura líquida, possibilita uma intervenção rápida e eficaz no tratamento, com benefícios para os pacientes e ao PNCTB.