Resumo

As afecções cutâneas perfazem cerca de 70% dos atendimentos em clínicas veterinárias, sendo as piodermites, uma das queixas mais comuns. Em cães, o agente etiológico de maior relevância é o Staphylococcus pseudintermedius, embora outros microrganismos possam estar envolvidos. Ao longo dos anos, aumento significativo no isolamento de cepas de Staphylococcus resistentes à meticilina tem sido relatado e, nestes casos, os medicamentos β-lactâmicos não tem efeito. Em conjunto, algumas cepas podem apresentar o fenótipo que determina resistência aos macrolídeos, às lincosaminas e às estretograminas do grupo B, reduzindo as alternativas terapêuticas. O conhecimento do padrão de resistência aos fármacos de linhagens Staphylococcus oriundas de animais é primordial, pois, a seleção de populações resistentes, além de dificultar a terapia, pode permitir a dispersão dos genes à outras espécies de um mesmo microambiente. O presente trabalho avaliou, entre fevereiro de 2011 e maio de 2013, a distribuição de dois fenótipos de resistência, possíveis de serem detectados in vitro, nos isolados de Staphylococcus provenientes de amostras cutâneas de cães com suspeita de dermatopatias. As 906 amostras recebidas de clínicas veterinárias da Grande São Paulo, foram semeadas e, após o isolamento, procedeu-se à identificação e realização do antibiograma. Os resultados demonstraram que Staphylococcus sp foi isolado em 87% das amostras. A resistência à oxacilina foi detectada em 22% das linhagens, enquanto o fenótipo MLSB esteve presente em 45% delas. A distribuição entre a resistência induzida (21%) e sua forma constitutiva (24%) foi semelhante. Linhagens portadoras de ambos os fenótipos somaram 13,5%, com predomínio da associação da resistência à oxacilina e o fenótipo MLSB na forma constitutiva (11%). Além disso, estas linhagens apresentaram elevada resistência à outras classes de antimicrobianos como as fluorquinolonas (85%) e combinações de sulfa e trimetoprim (82%), enquanto o menor valor foi verificado para as tetraciclinas (10%). A distribuição dos fenótipos de resistência não variou significativamente entre os anos. O trabalho chama a atenção para o problema da multirresistência bacteriana nos animais de companhia, que podem se tornar excelentes vetores dessa microbiota nas relações inter- e intra-espécies.