Resumo

O uso de plantas para o tratamento de doenças remonta ao início da civilização. Esta prática milenar ultrapassou barreiras durante o processo evolutivo e chegou até os dias atuais, sendo utilizada por grande parte da população mundial como fonte de recurso terapêutico. No estado do Acre, doenças como diarréia, impinge e pano branco são comumente tratadas utilizando-se espécies da flora acreana, mesmo sem o conhecimento de seus princípios ativos e efeitos colaterais. Visando possibilitar o uso orientado e compatível com os anseios da população usuária, o presente trabalho objetivou avaliar a ação antimicrobiana de plantas popularmente utilizadas como medicamento no estado do Acre. Extratos brutos foram obtidos seguindo a série eluotrópica hexano, acetona e etanol, a partir de 10 espécies da flora acreana: Scoparia dulcis, Tournerfortia cuspidata, Sida rhombifolia, Smilax sp, Uncaria tomentosa, Iryanthera juruensis, Phlebodium decumanum, Laportea aestuans, Bauhinia acreana e Torresia acreana. A ação antimicrobiana dos extratos foi avaliada contra 17 cepas de bactérias multirresistentes isoladas de pacientes internados em hospitais de Rio Branco-Acre: Staphylococcus aureus (5 cepas), Pseudomonas aeruginosa (6 cepas), Klebsiella sp (4 cepas) e Enterobacter sp (2 cepas). Discos de papel foram impregnados com 25 µL de cada extrato e depositados em placas de Petri contendo o meio ágar Müeller-Hinton inoculado com 50 µL de suspensão bacteriana. Os extratos que apresentaram maior ação antibacteriana foram submetidos à cromatografia em camada delgada, utilizando-se como fase móvel o sistema de solventes TOLUOL/DIOXANO/ÁCIDO ACÉTICO (180:45:5 v/v). As cromatoplacas foram visualizadas sob luz ultravioleta e reveladas com iodo ressublimado. As manchas obtidas foram comparadas através de coloração e valores de Rf. Os resultados mostraram que 8 plantas apresentaram atividade antimicrobiana, sendo S. dulcis, S. rhombifolia e U. tomentosa as de ação inibitória mais significativa. Em geral, as bactérias Gram-negativas apresentaram maior sensibilidade, já que aproximadamente 60% dos extratos inibiram seu crescimento, em comparação com aproximadamente 17% que inibiram o crescimento de bactérias Gram-positivas. Essa atividade abre perspectivas para novos estudos no sentido de verificar possíveis efeitos tóxicos dessas plantas, até que se possa desenvolver fitoterápicos eficazes para serem usados no tratamento de doenças causadas por micro-organismos multirresistentes.