Resumo

Os fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) são capazes de colonizar a maioria das raízes das plantas vasculares, favorecendo o desenvolvimento destas em condições adversas. Em solos alagados, vários relatos mostram redução acentuada da colonização micorrízica e dos benefícios desta associação, entretanto, estudos iniciais, desenvolvidos em Campos de Murundús no Cerrado de Goiás, revelaram elevada colonização micorrízica em raízes de Syngonanthus sp (planta predominante e tolerante ao alagamento) lançando a hipótese dos FMAs utilizarem os aerênquimas para obtenção de oxigênio, fato ainda não relatada na literatura. O presente estudo teve por objetivo avaliar a ocorrência de estruturas de fungos micorrízicos arbusculares em aerênquimas de Syngonanthus sp. Na área estudada que encontrava-se alagada, foram demarcados 30 pontos e em cada ponto coletado cerca de 50 g de raízes de Syngonanthus sp, a uma profundidade de 0-20 cm. Uma parte das raízes foram lavadas, clarificadas com KOH (10 %) e coradas com azul de tripano para determinação da porcentagem de colonização micorrízica. O restante das raízes foram fixadas, por 24h, em solução de Karnovsky modificada, submetida à dupla coloração e montadas em Entellan®. As raízes colonizadas por FMAs, após a avaliação, foram fixadas por solução de Karnovisky, solução de tetróxido de ósmio 1 %, submetidos ao banho de ouro e observados em microscópio eletrônico de varredura LEO EVO 40 XVP. Os resultados mostram que as raízes de Syngonanthus sp apresentavam colonização micorrízica superior a 40%, valor considerado elevado para um ambiente em condição de alagamento, o que contraria a literatura que descreve ser a colonização micorrízica negativamente afetada pelo excesso de água. Nos cortes histológicos analisados observou-se a formação de aerênquimas e de estruturas fúngicas de FMAs intra e intercelulares neste tecido, além, da colonização em toda a endoderme e em células esclerificadas abaixo da exoderme. Nas eletromicrografias nota-se claramente a presença de hifas fúngicas intra e intercelulares nos aerênquimas. Este é o primeiro relato na literatura sobre a ocorrência de estruturas fúngicas de FMAs em raízes de Syngonanthus sp e principalmente no interior dos aerênquimas. A utilização dos aerênquimas pelos FMAs pode ser uma estratégia adotada pelos FMAs para trocas gasosas (CO2, O2 e outros), promovendo a sobrevivência dos FMAs neste ambiente e pode indicar uma possível co-evolução destes dois organismos.