Resumo

O despejo de esgoto in natura nos corpos hídricos constitui um sério problema ambiental. A contaminação de mananciais aquáticos com agentes patogênicos excretados nas fezes e urina apresenta um grande potencial de transmissão de doenças, seja pelo contato direto ou indireto com a água contaminada. Os vírus entéricos estão frequentemente associados a surtos de gastroenterite aguda e dentre eles, destacam-se os rotavírus do grupo A (RV-A), os quais representam um sério problema de saúde pública, especialmente nos países em desenvolvimento. Apesar desta realidade, no Brasil e na maior parte dos países, a avaliação microbiológica da qualidade da água restringe-se à pesquisa de coliformes fecais, sem considerar o real potencial dos vírus entéricos patogênicos. O objetivo deste estudo foi investigar a presença de RV-A em águas superficiais da Bacia Hidrográfica do Córrego de São Pedro, em Juiz de Fora, MG, correlacionando-a com os parâmetros microbiológicos e físico-químicos, oficialmente utilizados para a determinação da qualidade da água. De julho de 2011 a maio de 2012, foram realizadas 6 campanhas, nas quais foram coletados 2L de água superficial, em 8 pontos georreferenciados. Em cada ponto de coleta foram aferidos os valores de condutividade, cloro, pH, salinidade, temperatura e turbidez e realizada a contagem de coliformes termotolerantes. Todas as amostras de água foram submetidas à técnica de concentração viral, utilizando-se a técnica de adsorção-eluição em membrana carregada negativamente, seguida de centrifugação. O RNA viral foi extraído pelo método da sílica e a suspensão obtida submetida à RT-PCR. A análise bacteriológica mostrou que 53,7% (27⁄48) das amostras de água analisadas excederam os valores estabelecidos pela Resolução CONAMA Nº 357 de 2005, para água de classes 1 e 2. RV-A foram detectados em 25,0% (12⁄48) das amostras obtidas, das quais, 19.0% (4 ⁄21) foram consideradas dentro dos valores aceitáveis de qualidade microbiológica. Dentre os parâmetros físico-químicos avaliados, a análise estatística mostrou uma correlação significativa entre a detecção de RV-A e a turbidez (p=0,000). Os dados confirmaram que a ausência de coliformes não exclui a presença de RV-A e aponta para a necessidade de se estabelecer, também, parâmetros virológicos na avaliação da qualidade da água.