Resumo

A principal forma de controle das formigas cortadeiras emprega iscas tóxicas contendo o inseticida sulfluramida. Tal substância química apresenta efeitos danosos ao ambiente, fato que motiva estratégias alternativas de combate desses insetos. Estudos prévios indicaram que ninhos de formigas cortadeiras em estágio de declínio podem apresentar o fungo Syncephalastrum racemosum. Na tentativa de compreender o papel desse fungo nos ninhos desses insetos, o presente trabalho investigou o antagonismo de S. racemosum frente ao fungo cultivado pelas formigas cortadeiras. Em ensaios in vitro, o fungo mutualista das formigas, Leucoagaricus gongylophorus, foi incubado na presença de S. racemosum (n= 6 linhagens). Uma linhagem de Escovopsis weberi foi utilizada no experimento para fins de comparação, pois sabe-se que tal fungo é considerado um parasita especializado do fungo cultivado pelas formigas. Após 14 dias de incubação a 25 °C, a área de crescimento do fungo mutualista foi mensurada e comparada. Todas as linhagens de S. racemosum inibiram significativamente o crescimento de L. gongylophorus quando comparado ao controle (ANOVA 2 critérios, F= 23,61475, P< 0,01). Não houve diferença significativa de inibição entre as linhagens de S. racemosum e E. weberi segundo o teste de Bonferroni (P> 0,05). Adicionalmente, verificou-se que as seis linhagens de S. racemosum, quando inoculadas diretamente nos jardins de fungo desprovido de operárias, colonizaram tais fragmentos em até 96 h. O mesmo ocorreu para os fragmentos de jardins nos quais E. weberi foi inoculado. Tanto S. racemosum, quanto E. weberi esporularam por completo sobre os fragmentos de jardins em até 96 h. Os resultados indicam que S. racemosum atue como um antagonista frente ao fungo das formigas. Tal resultado avança no conhecimento dos micro-organismos naturalmente associados aos ninhos das formigas cortadeiras.