Resumo

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, representado principalmente pelo Estado de São Paulo, que fornece 60% da produção. O impacto do desmatamento em função desse cultivo sobre a anfibiofauna é muito pouco conhecido. Na natureza, a flora bacteriana cutânea dos anfíbios está diretamente associada à dinâmica adaptativa nos respectivos hábitats. Este estudo visa um levantamento inicial de espécies bacterianas presentes na pele de anfíbios coletados em uma área de cana-de-açúcar. O objetivo é coletar dados para uma análise das possíveis modificações das espécies bacterianas em função do impacto causado pela perda do ambiente natural. As amostras bacterianas foram coletadas da pele de Dendropsophus nanus, Hypsiboas faber, Hypsiboas lundii, Leptodactylus fuscus, Leptodactylus mystacinus, Physalaemus centralis, Physalaemus cuvieri, Physalaemus marmoratus, Rhinella icterica, Rhinella ornata, Scinax fuscovarius e Scinax sp, provenientes de uma área de cultivo de cana no município de Campinas (SP). O isolamento e identificação das amostras foram realizados através de métodos clássicos de semeadura (ágar sangue e MacConkey), testes bioquímicos, e kits Api20E e Api20NE. Foi identificado um total de 48 espécies bacterianas em 200 colônias isoladas. As mais frequentes foram Citrobacter freundii (20%), Pseudomonas fluorescens (9%), Klebsiella pneumoniae (7%) e Serratia marcescens (6%). Foram ainda identificadas Aeromonas hydrophila, Citrobacter freundii e Serratia marcscens, associadas à septicemia de anfíbios, conhecida como síndrome “red-leg”. Aparentemente, os anfíbios que albergavam essas bactérias apresentavam-se sadios. Foram também encontradas Chromobacterium violaceum e Pseudomonas fluorescens, espécies simbiontes que inibem o crescimento da infecção causada pelo fungo Batrachochytridium dendrobatidis. As espécies bacterianas encontradas foram bem diversificadas, sendo que muitas não haviam sido relatadas anteriormente nestes anfíbios. Bactérias já descritas na literatura como potencialmente patogênicas foram encontradas com boa frequência em anfíbios ativos. A futura comparação desses resultados com os dos anfíbios das matas nativas contíguas deverá indicar quais espécies foram extintas pela cana-de-açúcar e confirmar a resistência das remanescentes às mudanças antrópicas.