Resumo

Vírus gigantes correspondem a um grupo muito especial de vírus, que apresentam complexidade estrutural e genética. Recentemente, vários vírus gigantes foram isolados a partir de diferentes amostras: água, solo, lente de contato, espécimes clínicos e outros. Dentre estes, destacam-se os vírus da família Mimiviridae, a primeira descrita. Até o presente momento não havia dados sobre a presença destes vírus no Estado de Minas Gerais. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo avaliar a presença e diversidade de vírus gigantes em uma lagoa urbana na cidade de Lagoa Santa, MG, Brasil. Amostras de água foram coletadas de forma equidistante em 14 pontos desta lagoa, em um total de 5 coletas por ponto (n=70). As amostras foram submetidas a um processo de enriquecimento em meio água-arroz e, em seguida, foram filtradas em filtros de 200 nm para retenção dos possíveis vírus presentes. As amostras foram eluídas com PBS e, em seguida, inoculadas em monocamada de amebas da espécie Acanthamoeba castellanii para a tentativa de isolamento. Em paralelo, as amostras foram submetidas a um ensaio de PCR em tempo real, para amplificação do gene da helicase, conservado na família Mimiviridae. Os resultados da PCR em tempo real indicaram a amplificação do gene alvo em 6 amostras. E dessas, duas amostras foram positivas no isolamento. Dessas, uma amostra foi selecionada para posterior caracterização e nomeada Kroon virus. Análises biológicas, incluindo avaliação de efeito citopático, testes de resistências, microscopia óptica e coloração de Gram revelaram características únicas do Kroon virus. Microscopia eletrônica revelou a estrutura de um vírus gigante, com semelhanças com os demais mimivírus. O sequenciamento e análises filogenéticas do gene da helicase indicaram que o vírus isolado é um mimivírus pertencente ao grupo A, agrupado juntamente com o protótipo da família, A. polyphaga mimivirus, A. castelanii mamavirus e Samba virus. O isolamento do Kroon virus a partir de uma lagoa urbana reforça a idéia de que os vírus gigantes são ubíquos e sugere que podem ser importantes nos ecossistemas aquáticos.