Resumo

A bovinocultura é uma atividade de destaque no Brasil, que possui o segundo maior rebanho de bovinos do mundo e é também o segundo maior exportador mundial de carne bovina. Dentre as dificuldades para a manutenção do índice produtivo dos rebanhos, destacam-se as doenças reprodutivas, responsáveis por diminuição ou perda de fertilidade, repetição de cios, diminuição da taxa de prenhez, abortos e nascimento de bezerros fracos ou natimortos. Dentre os fatores que podem afetar o equilíbrio de um microbioma, a microbiota indígena possui papel preponderante. Todavia, estudos sobre a caracterização dessa microbiota no trato geniturinário de fêmeas bovinas são ainda incipientes, e poucos microrganismos foram descritos neste contexto. Este trabalho objetivou caracterizar esse microbioma, de forma qualitativa e semi-quantitativa, em fêmeas da raça Nelore (principal raça de corte no Brasil), de diferentes idades, gestantes ou vazias. Foi realizado lavado vaginal (50 ml de solução salina estéril) em 20 animais, divididos entre os grupos Novilhas Prenhes (NP), Novilhas Vazias (NV), Vacas Prenhes (VP) e Vacas Vazias (VV). Os lavados foram diluídos e semeados em diferentes meios de cultivo, e submetidos a duas condições de incubação: Aerobiose (Meios: Ágar Sangue, Ágar MRS e Ágar Mac Conkey) e Anaerobiose (Meios: Ágar Sangue e Ágar MRS). O crescimento foi quantificado a partir da contagem das unidades formadoras de colônia (UFC) por ml de lavado. Os animais em gestação apresentaram uma microbiota mais abundante em relação aos demais. Também foi possível observar que as vacas apresentaram números mais elevados de microrganismos quando comparadas às novilhas. Acreditamos que os fatores hormonais que regem a maturação sexual e a gestação nestes animais possuem fator preponderante na definição e manutenção da microbiota. Em comparação aos dados já descritos sobre o microbioma genito-urinário de fêmeas de outras espécies, incluindo humanos, a baixa quantidade de microrganismos encontrada para bovinos, na ordem logarítmica de 1,3 a 3,5 UFC/ml de lavado, chama a atenção. Futuros trabalhos de nosso grupo irão identificar os microrganismos aeróbios e anaeróbios isolados, e caracterizar de forma ampla o microbioma deste trato. O estudo deste microbioma possui o potencial de interferir positivamente no manejo do rebanho bovino no país, além de ampliar o entendimento das patologias que acometem estes animais.