Resumo

Nas últimas décadas, membros do complexo Mycobacterium avium intracellulare complex (MAIC), ou complexo avium, vêm se destacando como patógenos humanos emergentes envolvidos em casos de linfoadenite em crianças, doença pulmonar tipo-tuberculose e infecções disseminadas, principalmente em pacientes HIV-positivos. De maneira similar, importantes doenças animais são causadas por membros deste grupo, como, por exemplo, a tuberculose em aves e a paratuberculose em ruminantes. O MAIC inclui o M. intracellulare e quatro subespécies de M. avium (M. avium subsp. avium, M. avium subsp. hominissuis, M. avium subsp. silvaticum e M. avium subsp. paratuberculosis). Enquanto a M. tuberculosis é transmitida por contato direto entre hospedeiros, as espécies do MAIC são adquiridas predominantemente de fontes ambientais, incluindo solo, água, poeira e alimentos. Nesse tipo de infecção, a apresentação mais comum são nódulos indolores na cabeça e nas extremidades dos membros. Desta forma, o objetivo principal deste trabalho é o de descrever um caso de micobacteriose em um cão atendido em uma clínica veterinária no Rio de Janeiro e o tipo de diagnóstico e abordagem clínica utilizada. Uma cadela da raça Boxer, de nove anos de idade, foi atendida na clínica veterinária Vet Care em Laranjeiras, apresentando lesões supurativas no pavilhão auricular. Um curativo compressivo foi feito e um complexo vitamínico prescrito associado à antibioticoterapia (Cefalexina 300 mg; 12h/12h), durante sete dias, e anti-inflamatório não esteroide (Firocoxib 114 mg por 10 dias). Um mês após o término do tratamento, o animal voltou para revisão, e após exame clínico dois nódulos foram encontrados, um em cada pavilhão auricular, cada um deles com aproximadamente dois centímetros de diâmetro. O material foi coletado por punção por agulha fina (PAF), e uma lâmina preparada, por squash, e corada por Diff-quick. Foram visualizados alguns fibroblastos reativos, neutrófilos e plasmócitos. Nos macrófagos foram observadas estruturas semelhantes a imagens negativas de bacilos característicos de Mycobacterium spp., e por esta razão outra lâmina foi corada por Ziehl-Neelsen. Amostras de sangue foram coletadas para semeadura em meios seletivos para isolamento e identificação de micobactérias. Os nódulos foram retirados por excisão cirúrgica e encaminhados para análise histopatológica. Nossos resultados evidenciam uma infecção cutânea causada por Mycobacterium spp. em uma cadela da zona sul do Rio de Janeiro.