Resumo

Fungos resistentes ao calor podem ser classificados como termofílicos ou termotolerantes, sendo distinguidos com base nos seus extremos de temperatura de crescimento. Fungos termofílicos são aqueles que apresentam temperatura máxima de crescimento a 50 °C ou acima e apresentam temperatura mínima a 20 °C ou acima; já os fungos termotolerantes são aqueles que crescem em temperaturas máximas de até 50 °C com temperatura mínima de crescimento abaixo de 20 °C. O presente trabalho teve como objetivo estudar os fungos termofílicos e termotolerantes presentes em leiras de compostagem de torta de filtro, um resíduo da indústria sucroalcooleira, utilizando métodos dependentes de cultivo. Para tanto, 10 g da amostra foram submetidas à diluição seriada e inoculadas nos meios YGA (Yeast Glucose Agar) e YSA (Yeast Starch Agar) suplementados com rosa bengala (50 mg/L); e MA2% (Extrato de Malte). Todos os meios foram acrescidos de penicilina G e sulfato de estreptomicina (30 mg mL-1). As placas foram incubadas a 45 °C durante cinco dias. Após o período de incubação, os fungos foram purificados em MA2% e os isolados representativos de cada morfotipo foram identificados utilizando marcadores morfológicos (macro e microscopia) e moleculares (sequenciamento da região ITS ou do gene β-tubulina). No total foram obtidos 31 isolados de fungos, compreendendo quatro espécies. Considerando a definição de termofílico adotada, foi encontrada uma única espécie termofílica: Thermomyces lanuginosus e três espécies termotolerantes: Aspergillus fumigatus, Rhizopus microsporus e Lichtheimia ramosa. Em termos de frequência, verificou-se que houve prevalência de fungos do filo Ascomycota em detrimento do filo Zygomycota, sendo T. lanuginosus o mais comumente encontrado (67,7%) seguido de A. fumigatus (25,8%), enquanto R. microsporus e L. ramosa apresentaram baixa carga microbiana (3,25%, ambos) e foram isolados somente no meio YGA. O baixo número de espécies encontrado e a prevalência de T. lanuginosus e A. fumigatus, espécies comumente encontradas em sistemas de compostagem, pode estar relacionado com o grau de decomposição da torta de filtro, visto que o material foi mantido empilhado por cerca de quatro meses e, portanto encontrava-se quase que completamente bioestabilizado, sendo assim, novos esforços são necessários para completar este levantamento de fungos resistentes ao calor presentes em resíduos lignocelulósico.