Resumo

O papilomavírus humano (HPV) é uma das causas mais comuns de infecção sexualmente transmissível entre as populações humanas de todo o mundo, especialmente nas mulheres jovens, no inicio da atividade sexual. Uma parcela significativa das mulheres adquire a infecção pelo HPV ainda na adolescência, fase em que a mulher apresenta maior vulnerabilidade biológica ao vírus, em virtude da metaplasia e ectopia do epitélio cervical, além da imaturidade tanto do epitélio quanto do sistema imune. Assim, a mulher adolescente apresenta maior risco, não apenas de adquirir a infecção pelo HPV, mas também de evoluir para a forma persistente, bem como para o desenvolvimento das lesões da cérvice uterina, associadas ao vírus. O objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência da infecção genital pelo HPV em adolescentes, correlacionar com o resultado do exame citológico de Papanicolaou e identificar fatores de risco. Foram incluídas neste estudo, 132 adolescentes, sendo 24 grávidas e 108 não grávidas, arroladas entre aquelas que foram atendidas na Maternidade Escola Januário Cicco, em Natal/RN, no período de 2010 a 2012. As pacientes que concordaram em participar do estudo responderam a um questionário padronizado e em seguida foram coletados dois espécimes da cérvice uterina, um para o exame citológico e o outro para análise por PCR utilizando os iniciadores genéricos GP5+ / GP6+, para amplificação de uma sequência de 140 pb do gene L1 viral. A analise estatística foi realizada por regressão logística univariada com cálculo das razões de chance e respectivos intervalos de confiança, considerando significativo para valor de p ≤ 0,05. A idade das participantes variou de 14 a 19 anos, média de 16,3 anos, a maioria de etnia não branca, casada, com baixa renda e baixa escolaridade, iniciou a atividade sexual com menos de 18 anos e teve mais que um parceiro sexual. A taxa de prevalência global da infecção genital pelo HPV foi de 54,5%, sendo 52,8% nas grávidas e 62,5% nas não grávidas, não havendo diferença significativa entre os dois grupos. A prevalência do HPV foi de 48,2% nas adolescentes com citologia normal e 86,4% naquelas com alterações citológicas. Observou-se que a presença do vírus aumentou mais de seis vezes o risco de ocorrência de alterações citológicas. Analisando-se a relação entre infecção pelo HPV e varáveis sócio-demográficas, atividade sexual e reprodutiva, constatou-se a existência de associação apenas com número de parceiros sexuais, onde valor de p ficou muito próximo do nível de significância estatística. As adolescentes deste estudo apresentaram uma alta prevalência da infecção genital pelo HPV, com taxa significativamente maior naquelas portadoras de alterações citológicas e nas que tiveram dois ou mais parceiros sexuais ao longo da vida.