Resumo

Parabacteroides distasonis é uma bactéria de relevância clínica, membro da microbiota indígena de seres humanos e outros animais. Bacteriocinas são substâncias antibacterianas de natureza peptídica, produzidas por uma grande variedade de bactérias, que parecem atuar como habilidade de virulência e apresentam potencial de aplicação prática. Relatos sobre bacteriocinas sintetizadas por bactérias anaeróbias são bastante escassos. Nosso grupo vem trabalhando na área e descreveu, pela primeira vez, a síntese de substâncias tipo bacteriocina por P. distasonis. A seguir, desenvolvemos este estudo, com o objetivo de caracterizar uma das substâncias antagonistas detectadas. Inicialmente, foram testadas 78 amostras isoladas do trato gastrointestinal de frangos de corte empregando-se, como reveladoras, as amostras teste e um painel de bactérias Gram positivas e Gram negativas. Os ensaios foram realizados pelo método de sobrecamada e, com base nos resultados do screening, uma amostra foi escolhida para caracterização. Após exclusão de possíveis fatores interferentes, realizou-se extração proteica e a fração intracelular precipitada com (NH4)2SO4 50% (C50) foi selecionada para as etapas subsequentes. Avaliou-se estabilidade a pH e temperatura, solventes orgânicos e proteases. C50 foi submetida a SDS-PAGE e teste de atividade antagonista in situ e encaminhada para passos sequenciais de cromatografia - troca iônica, exclusão molecular e fase reversa - e espectrometria de massa. Metade das amostras testadas expressou atividade antibacteriana (hetero, iso e autoantagonismo), observada, predominantemente, contra anaeróbios, em especial P. distasonis e Bacteroides. C50 foi inativada por proteases e temperaturas elevadas e manteve-se ativa após exposição a solventes orgânicos, ampla faixa de pH e baixas temperaturas. O teste de atividade in situ revelou banda ativa <10kDa. A espectrometria de massa indicou a presença de quatro moléculas na fração ativa recuperada da última etapa de purificação, a mais intensa delas com 7,4kDa. Os dados indicam a natureza proteica da substância antagonista, possivelmente um peptídeo de cerca de 7kDa. O amplo espectro de ação de P. distasonis, inclusive contra membros da microbiota intestinal, reforça a importância ecológica do fenômeno e a suscetibilidade de amostras de Bacteroides isoladas de infecções intra-abdominais demonstra seu potencial de aplicação biotecnológica. Instituições de fomento: CNPq, FAPEMIG, CAPES e PRPq/UFMG.