Resumo

A enterite aguda é considerada um problema de saúde pública, especialmente preocupante em regiões menos desenvolvidas. Entre os agentes do quadro, destaca-se Shigella, em decorrência da prevalência e da gravidade da doença associada. Diversas bactérias, inclusive Shigella, expressam a habilidade de sintetizar bacteriocinas, substâncias antimicrobianas de natureza peptídica, importantes do ponto de vista ecológico e biotecnológico. Considerando-se a relevância e a escassez de dados relativos ao tema, desenvolvemos este estudo, cujo objetivo geral foi caracterizar uma bacteriocina produzida por Shigella sonnei. A amostra produtora, isolada de espécime fecal de criança com diarreia aguda, foi submetida a extração proteica por meio de precipitação com concentrações crescentes de sulfato de amônio. O extrato intracelular precipitado com 75% do sal (C75) foi selecionado para os passos subsequentes do estudo. C75 foi submetido a etapas sequenciais de cromatografia visando à purificação da substância antagonista e as frações ativas recuperadas após o último passo de purificação foram analisadas em espectrômetro de massa. Os dados demonstraram que a(s) proteína(s) foram apenas parcialmente purificadas. Ainda assim, diversos fragmentos proteicos foram sequenciados. Observou-se identidade entre eles e enzimas envolvidas no metabolismo de carboidratos, na síntese de aminoácidos e no processo de quorum sensing, entre outros, além de similaridade com proteínas cuja função é desconhecida. Semelhança significativa com bacteriocinas já descritas não foi detectada. Os resultados sugerem a detecção de bacteriocina(s) ainda não descrita(s) ou de proteína(s) já descrita(s), porém com função ainda não identificada. Para a caracterização mais detalhada da(s) bacteriocina(s), é fundamental a otimização do protocolo de purificação empregado. Considerando a baixa dose infectante do organismo, é plausível hipotetizar que bacteriocinas contribuam para a virulência de Shigella, conferindo vantagem competitiva à mesma. Instituições de fomento: CNPq, FAPEMIG, CAPES, PRPq/UFMG e TWAS.