Resumo

Embora a proposta de classificação dos seres vivos nos domínios Eukarya, Bacteria e Archaea tenha ocorrido há aproximadamente 25 anos, até hoje são ainda escassos os estudos sobre Archaea em nosso país. Apesar dos inúmeros trabalhos publicados na última década e da grande quantidade de sequências de DNA depositadas em bancos de dados, muitos aspectos da biologia de archaeas permanecem ainda obscuros devido à dificuldade de cultivo destes organismos. Dados recentes revelam que, assim como observado para bactérias, archaeas são organismos ubíquos, sendo detectadas em diferentes tipos de solo, em água doce ou salgada, com diferentes condições físicas. Neste sentido, a detecção de archaeas em ambientes naturais mesófilos vem sendo crescentemente descrita, especialmente por meio de técnicas independentes de cultivo. Tendo em vista a necessidade da obtenção do cultivo de tais organismos em meio artificiais, a fim de melhor avaliar sua biologia, bem como seu potencial biotecnológico, tal trabalho descreve o desenvolvimento de metodologias para a obtenção de culturas puras de archaea a partir de amostras de solo. Para tanto, solo de uma área de jardim foi utilizado para a confecção de meios de cultura, aos quais foram adicionados, de forma sequencial, diversos agentes antimicrobianos, a fim de tornar os meios altamente seletivos. Os meios foram incubados a 28ºC, até a observação do desenvolvimento de colônias, geralmente após 15 a 30 dias de incubação. As colônias foram submetidas ao procedimento de extração de DNA total, o qual foi utilizado em reações de PCR empregando iniciadores específicos para genes que codificam o rRNA 16S de Archaea ou Bacteria. Fragmentos de DNA foram amplificados a partir de iniciadores para Archaea e para Bacteria, sugerindo a ocorrência de um co-cultivo. Os fragmentos de DNA foram submetidos ao sequenciamento automático, revelando a presença de bactérias da ordem Rhizobiales e archaeas do filo Thaumarchaeota. Tal resultado pode ser considerado esperado, tendo em vista a ampla distribuição de bactérias do grupo Rhizobium em solos e a ubiquidade de archaeas do filo Thaumarchaota neste tipos de habitat. A partir de tais resultados e, pelo fato da literatura ressaltar a resistência dos Rhizóbios aos antimicrobianos, novos agentes antimicrobianos serão adicionados aos meios, a fim de obter-se uma cultura pura de archaeas.