Resumo

A capacidade de filamentação (morfogênese) é um dos fatores de virulência que está associado à invasão tecidual, importante etapa no estabelecimento de candidíase. Candida albicans é a espécie mais prevalente neste cenário clínico, bem como a mais virulenta do gênero Candida. A capacidade de emissão de tubos germinativos e consequentemente a formação de hifas em C. albicans é um fator de virulência associado à infecção. Pouco se sabe sobre o mecanismo de ação de produtos naturais com potencial antifúngico sobre os fatores de virulência de Candida spp. O presente estudo objetivou avaliar o perfil proteico de C. albicans quando previamente tratada com extrato bruto de Eugenia uniflora e submetida à indução da morfogênse. Células de C. albicans ATCC 90028 foram pré-crescidas overnight em meio NGY contendo 2mg/ml da fração extrativa acetato de etila de E. uniflora (experimento teste) e no mesmo meio sem o extrato (experimento controle). A morfogênese foi realizada com as células tratadas e não tratadas a uma concentração de 1x10⁶ células/mL em 200 mL de meio YPD acrescido de 20% de soro fetal bovino, incubadas à 37°C por 3h. As amostras foram centrifugadas e o pellet contendo hifas de C. albicans submetido à extração de proteínas totais utilizando maceração com nitrogênio líquido e tampão Tris-HCl 10 mM. As proteínas totais foram submetidas à eletroforese bi-dimensional (2D) e os spots proteicos tripsinizados e sequenciados pela técnica de Matrix Assisted Laser Desorption Ionization – Time of Flight (MALDI-TOF) para identificação das proteínas. Um total de 292 spots proteicos foi identificado no gel 2D de C. albicans do experimento teste, 20 spots a menos que o gel do experimento controle, do qual foram identificadas 312 proteínas. Diversas proteínas foram diferencialmente expressas quando as células de C. albicans foram pré-crescidas na presença do extrato, sendo que proteínas relacionadas à filamentação de C. albicans apresentaram acentuada diminuição na sua expressão, destacando-se a profilina (responsável pela interação com a actina durante a formação do citoesqueleto na filamentação) e a cofilina (controle da polimerização da actina), reduzidas na presença do extrato de E. uniflora. Estes dados sugerem uma participação ativa do extrato de E. uniflora, mais especificamente na sua fração acetato de etila, na morfogênese de C. albicans, mostrando que os produtos naturais podem interferir na expressão dos fatores de virulência por esta espécie.