Resumo

Introdução: A predominância dos lactobacilos é reconhecida como responsável pela manutenção da homeostase do ecossistema vaginal. A perda destas bactérias pode predispor a mulher a infecções, como a vaginose bacteriana(VB). Por esta razão, o uso de lactobacilos pode ser efetivo na restauração da microbiota vaginal e na prevenção de doenças. Materiais e métodos: Antagonismo in vitro - Foi realizado por meio da técnica de difusão em sobrecamada de ágar. Como indicadoras da produção de substâncias antagonistas, pelas amostras teste de L. crispatus (L.04 e L.12), foram empregadas amostras de referência representativas da microbiota vaginal da mulher, em especial aquelas envolvidas na VB. Adesão celular - Suspensões das amostras L.04 e L.12, previamente cultivadas em meio MRS a 37 ⁰C, sob anaerobiose, ficaram em contato durante duas horas com a monocamada da linhagem celular vaginal humana HMVII (ECACC® 92042701), cultivada em meio RPMI 1640 suplementado, a 37 °C em uma atmosfera contendo 5% de CO₂. Após a adesão, fixaram-se as células em solução de glutaraldeído a 3% em tampão cacodilato para a preparação das amostras à microscopia eletrônica de varredura. Discussão dos resultados: A produção de substâncias antagonistas contra Gardnerella vaginalis, espécies de Bacteroides do grupo B. fragilis, Mobiluncus mulieris e Prevotella intermedia por L.04 e L.12 sugere que estes podem contribuir para a proteção do trato genital, considerando o envolvimento destas bactérias na VB. A atividade antagonista dos lactobacilos pode ser atribuída a diferentes substâncias antimicrobianas, como ácidos orgânicos, peróxido de hidrogênio, biossurfactantes e bacteriocinas. A capacidade de adesão dos lactobacilos testados representa uma característica importante na colonização de membranas mucosas, já que esta propriedade é um dos fatores críticos a serem considerados na manutenção do equilíbrio da microbiota e da saúde do ecossistema vaginal, visto que a adesão prolonga a permanência desses micro-organismos na vagina e assim permite o exercício dos efeitos benéficos dos mesmos. Faz-se necessária a caracterização adequada das amostras de lactobacilos de modo a visar a utilização terapêutica dos mesmos, como preconizado pela Organização Mundial de Saúde. Conclusão: O fenômeno de heteroantagonismo observado pode representar uma vantagem ecológica no controle dos níveis populacionais de espécies patogênicas no ambiente vaginal. A aderência das amostras L.04 e L.12 às células HMVII pode ser reconhecida como um passo essencial na colonização microbiana e um evento chave na inibição do desenvolvimento de infecções ao competirem por sítios receptores com micro-organismos patogênicos.