Resumo

O Brasil destaca-se entre os principais produtores mundiais de corantes para tecidos, gerando muitos resíduos industriais têxteis, impactando ambientes (efluentes, solo) e a saúde humana (sensibilização cutânea e/ou respiratória, carcinogenia ou mutagenese). Alguns processos de tratamento residuais são utilizados para reduzir e/ou eliminar os contaminantes. Dentre essas técnicas, se destaca a biorremediação, onde podem-se utilizar plantas e uma extensa variedade de micro-organismos. O uso de fungos e bactérias combinado com métodos e condições aeróbicas ou anóxicas, facilita a degradação de resíduos têxteis, enfatizando-se a importância do estudo de micro-organismos biodegradantes. Nesse contexto, o presente trabalho objetivou realizar a bioprospecção de micro-organismos com capacidade de degradar resíduos e corantes têxteis industriais. Foram isolados do solo do Cerrado de São Carlos e das folhas de algumas árvores desse bioma vinte micro-organismos: um fungo e dezoito bactérias endofíticos e uma bactéria do solo. As bactérias foram semeadas em Ágar ISP2 acrescido de um resíduo têxtil de coloração vermelha (1:1). O fungo foi cultivado em Ágar Malte 2% m/v contendo o mesmo resíduo vermelho (1:1). O crescimento foi observado durante 7 dias consecutivos. Os endofíticos e o micro-organismo isolado do solo foram cultivados à 28 e 37ºC, respectivamente. As cinco linhagens estudadas foram identificadas fenotípica (análise da morfologia de colônias, coloração de Gram, microscopia e produção de metabólitos) e/ou genotipicamente (16S rRNA), sugerindo o gênero Penicillium spp (IJ1) e quatro Bacillus spp (três linhagens endofíticas: IB3, IB6 e IB7 e uma linhagem do solo: IS1). Observou-se, nos cultivos de IB3, IB6 e IB7 halos de degradação do corante de 1,5, 0,8 e 1,2 cm, respectivamente. O halo produzido por IB7 apresentou um aumento continuado, sugerindo maior atividade de biorremediação. Interessantemente, o isolado IS1 produziu um halo de degradação observável até no reverso da placa, resultado não presente nas outras linhagens, sugerindo maior atividade enzimática. No cultivo de IJ1 foi observada a mudança da coloração característica do micélio (verde) em meio Malte 2% m/v para uma cor similar à do resíduo vermelho incorporado ao meio de cultivo. Esses resultados demonstram a viabilidade da continuidade dos estudos com as linhagens selecionadas em meio liquido.