Resumo

A crescente demanda por fertilizantes fosfatados na agricultura e o iminente esgotamento das reservas de fosfato de rocha (FR) de melhor qualidade têm colocado em evidência a necessidade de desenvolvimento de técnicas que viabilizem a exploração de FRs com menor conteúdo de fósforo (P). O uso de micro-organismos solubilizadores de fosfato tem se destacado como opção para esse fim, possibilitando a produção de biofertilizantes por meio da solubilização de FRs de baixa reatividade ou mesmo a recuperação parcial do P adsorvido às partículas do solo. Durante a solubilização de FR, os micro-organismos estão expostos a vários elementos químicos que são liberados do FR concomitantemente com o P. Recentemente foi demonstrado que o fluoreto liberado reduz drasticamente a solubilização de P em decorrência da inibição de processos metabólicos importantes para o processo. Diante disso, o objetivo desse trabalho foi avaliar o potencial de biocarvão em remover o fluoreto liberado durante a solubilização de FR. O experimento foi conduzido em frascos contendo 100 mL do meio NBRIP suplementando com 3 g L^-1 de FR de Araxá. O biocarvão foi adicionado em concentração de 3 g L^-1. Frascos suplementados somente com FR ou biocarvão foram utilizados como controles. Todos os frascos foram inoculados com 10⁶ conídios de A. niger e incubados durante 5 dias em agitador orbital a 30 °C e 160 rpm. Ao final do período de incubação, foram determinadas as concentrações de P e fluoreto solúveis, os ácidos orgânicos produzidos e o pH do meio de cultivo. A adição de biocarvão aumentou a solubilização de FR de Araxá em 200 % quando comparado ao controle, atingindo 160 mg L^-1 de P. Além disso, 73 % do fluoreto liberado durante a solubilização do FR foi adsorvido pelo biocarvão. Quando comparado ao controle com apenas FR, a adição do biocarvão também aumentou a produção dos ácidos cítrico, glicônico e oxálico, além de provocar maior redução do pH do meio. Concentrações similares dos referidos ácidos orgânicos foram encontradas em ambos os tratamentos com biocarvão, independentemente da adição de FR. Esses resultados indicam que o biocarvão aumenta a solubilização de FR por meio de dois mecanismos: mitigação do efeito inibitório do fluoreto liberado e estímulo à produção de ácidos orgânicos. Essas observações são muito interessantes, já que um aumento significativo da solubilização de FR foi obtido com a aplicação de um produto de fácil obtenção e de baixo custo.