Resumo

INTRODUÇÃO: Rhodococcus equi raramente causa infecção em humanos, porém sua incidência tem aumentado significativamente. A rodococose é apontada como doença emergente desde 1986 e tem sido descrita como pneumonia necrosante e abscesso pulmonar em pacientes imunodeprimidos. Infecções em pacientes imunocompetentes são extremamente raras. RELATO DE CASO: Homem de 25 anos, com dor torácica ventilatório-dependente à esquerda há 30 dias; dispneia, febre e tosse seca há uma semana. Realizou raio-X (RX) torácico, que evidenciou empastamento do hilo pulmonar com derrame pleural à esquerda; tomografia computadorizada (TC) torácica, mostrando derrame pleural no terço inferior do hemitórax esquerdo. Paciente foi internado no setor de pneumologia do Hospital Universitário de Santa Maria (HUSM) com pneumonia e derrame pleural, iniciando antibioticoterapia. Foi inserido dreno torácico para drenar o derrame pleural no lobo inferior esquerdo. Exames do líquido pleural confirmaram empiema com exsudato linfocítico. Houve piora clínica do paciente com dor abdominal, dispneia, dor persistente, alterações pleurais na TC, edema nos membros, taquipneia e taquicardia. No líquido pleural foi isolado Rhodococcus equi, iniciando tratamento com linezolida e imipenem. Em cultura de ponta de dreno isolou-se Acinetobacter baumannii, tratando-se com tigeciclina e polimixina B. Hemocultura apresentou-se negativa. Paciente foi para o isolamento e uma amostra de pleura parietal foi enviada para análise patológica, sendo detectada infiltração pleural maciça para linfoma não-Hodgkin (LNH). Exame imunohistoquímico pleural confirmou linfoma linfoblástico de células T precursoras, um subtipo de LNH. Medula óssea sem evidências de infiltração por linfoma. No 37º dia de internação, o paciente acabou evoluindo para óbito, devido a uma septicemia ocorrida durante uma cirurgia de decorticação pulmonar para drenar o empiema pleural causado pelo LNH. DISCUSSÃO: Biópsia da medula sem infiltração por linfoma, sugerindo a doença em sua forma primária, ou seja, permanecia localizada em sítios extra nodais nos pulmões (pleura), sendo considerada rara. O paciente já apresentava sintomas pulmonares no momento da internação, mostrando que pode ter ocorrido a disseminação do R. equi da cavidade pleural para o sangue durante a cirurgia de decorticação pulmonar, ocasionando a septicemia e a consequente morte do paciente. Entretanto, como não foi possível confirmar qual agente etiológico causou a septicemia, supõe-se que a infecção nosocomial causada pelo A. baumannii possa ter contribuído para o óbito do paciente. CONCLUSÃO: Este relato reforça a importância do diagnóstico da rodococose em pacientes imunodeprimidos, como portadores do vírus HIV e indivíduos acometidos por neoplasias sanguíneas, como o linfoma não-Hodgkin.