Resumo

Desde a década de 70, o Brasil vem incentivado o uso dos bicombustíveis em substituição aos combustíveis fósseis. O biodiesel é um combustível alternativo, contudo sua produção resulta na geração de co-produtos, como a glicerina. No Brasil, desde 2005, é obrigatória a adição de 2% de biodiesel no diesel de petróleo até 2008 e adição de 5% até 2013 (lei 11.097/2005). Estima-se que diante essa lei, o excedente de glicerina no país em 2013 ultrapasse a produção de 250mil t/ano. Os processos biotecnológicos tem se tornado uma alternativa para a utilização de resíduos industriais, como a glicerina, através dos processos fermentativos microbiológicos, principalmente anaeróbios, por demandarem pouca energia para a realização de processos onde os produtos finais são compostos químicos que podem ser aproveitados como fonte de energia, como exemplo, o hidrogênio. Sendo assim, o presente trabalho teve como objetivo identificar e caracterizar através de técnicas bioquímicas e moleculares, bactérias presentes em estações de tratamento de efluentes, capazes de crescerem em meio de cultivo contendo glicerina como fonte de carbono. Os microrganismos foram isolados a partir de quatro amostras de efluentes, os quais foram crescidos em caldo contendo glicerina como fonte de carbono. Os microrganismos foram classificados através da coloração de Gram e semeadura em meios seletivos. Após, foi realizada a extração do DNA e amplificação do segmento 16S rRNA através da reação em cadeia de polimerase (PCR). Os produtos foram purificados e seguiram para o sequenciamento e alinhamento no GenBank. Foram isoladas 12 amostras bacterianas, sendo estas identificadas como:texto Enterobacter ludwigii, Bacillus amyloliquefaciens, Shigella sonnei, Bacillus licheniformis e Shigella flexneritexto. A característica em comum destas bactérias isoladas é a capacidade de produzir hidrogênio por fermentação anaeróbia, utilizando a glicerina como fonte de carbono. Tal característica, apresenta dois aspectos importantes. O primeiro de ordem ecológica, dando-se uma destinação à glicerina residual proveniente da fabricação do biodisel. Em paralelo, o uso do biohidrogênio como combustível em substituição aos combustíveis fósseis, evitaria a liberação do dióxido de carbono na atmosfera, gás este responsável pelo efeito estufa. Outro aspecto de destaque é o econômico, já que a glicerina é uma fonte de carbono de baixo custo, se comparado com a glicose ou frutose. Em suma, a produção deste biogás se tornaria um processo sustentável, por promover a utilização de resíduos e a produção e energia. Esses resultados indicam o potencial de exploração da microbiota natural presente em resíduos e efluentes, por processos fermentativos biotecnológicos para produção de biohidrogênio como combustível e/ou fonte de energia limpa e renovável.